É o cristianismo uma religião como qualquer outra? I
O
dito espalhou-se pela praça pública. E na praça pública não passam pensamentos,
mas apenas mexericos. O cristianismo é uma religião como as outras.
Por
um lado, isto pode parecer positivo: todas as religiões são religiões de paz e
amor. De outro, pode aparecer sob forma negativa: todas as religiões são factor
de guerra e desastres para a humanidade.
Não
é verdadeiro que todas as religiões sejam de paz e amor. Dizer que todas as religiões
são de paz é esquecer os deuses da guerra que pululam nas mitologias, desde
Marte a Ares, passando por vários deuses védicos ou nórdicos, ou então Marduk.
Quando uma religião celebra vitórias militares, como o islão, fica-se por saber
qual o limite deste conceito. A lista podia seguir até ao infinito.
A
paz não significa sempre a coisa maravilhosa que os burguesitos acomodados
pensam que é. A pax romana implica
dominação, submissão prévia, e delimitação da esfera de liberdade na qual o dominado
pode actuar. O mesmo se pode dizer da pax arabica,
da pax otomana, da pax mongolica, da pax colonial. Ser uma religião de paz não significa ausência de violência,
mas pressupõe uma violência prévia, a da dominação e uma violência certa, a da resposta
à prevaricação. Quando Jesus diz: dou-vos a
minha paz, sabe que não é qualquer paz que ressuma liberdade.
Quanto
a todas as religiões serem de amor, talvez seja de lembrar que se há palavra
rara no vocabulário religioso é precisamente a de amor. Os gregos tinham pelo
menos quatro palavras traduzíveis vagamente por amor (storge, philia, eros, agape), os romanos três (amor,
diligentia, caritas). Que seja do meu conhecimento o islão em parte nenhuma
refere o amor. E quanto aos gregos, quando o amor é referido, nunca na mitologia,
mas apenas da época clássica, o amor está associado ao ódio. Nas «Euménides» a penúltima
intervenção do coro diz qualquer coisa como: «Teremos os mesmos amores e os mesmos ódios». A comunidade é
sempre uma comunidade também de ódios, de inimigos comuns.
Do
lado negativo, que as religiões tenham criado guerra é esquecer que foram os
homens que as criaram. É já trivial, embora muito esquecido, que os ateus, ou indiferentes
não foram mais pacíficos. E poderíamos citar Napoleão, Hitler ou Estaline. Nem
vale a pena perder mais tempo com a demonstração.
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