A muçulmana e a escola
É um facto trivial hoje
em dia. Uma muçulmana aparece na televisão coberta dos trapos tribais e confessa-se,
em geral num bom francês, inglês ou alemão, cultora da tradição dos seus antepassados,
orgulhosa por ser muçulmana, da imensa cultura muçulmana e como é conciliável o
seu feminismo, o seu trapo e o islão.
Geralmente recebida pelo
jornalista com um sorriso aberto, prova de que a culturas se dão entre si como dois
gatinhos saltitantes a correr num prado em conto infantil – o jornalista revela
assim as suas fontes culturais que não homéricas – tudo parece correr no melhor
dos mundos.
Ness altura lembro-me de
um historiador, Moffett, que estudou a situação dos cristãos na Ásia. Tendo missões
cristãs criado escolas para mulheres na Pérsia do fim do século XIX, o governador
muçulmano da província visita a escola e pergunta: que fazem mulheres com
livros na mão? Nunca tal se havia visto.
Na Índia em 1891, em
100.000 muçulmanas apenas 3 eram alfabetizadas. Entre 100.000 mulheres hindus
400 eram alfabetizadas. Entre 100.000 cristãs 17.000 eram alfabetizadas. As hindus
eram 133 vezes mais alfabetizadas que as muçulmanas. As cristãs eram 5666 vezes
mais alfabetizadas que as muçulmanas.
Só com as missões e os impérios
coloniais europeus as mulheres começam a ir à escola nos países muçulmanos, nem
turcas nem árabes, nem persas nem indianas iam à escola.
Por isso, quando vejo as
doces raparigas enroladas em trapos, que sorridentes falam em boa língua europeia
sobre a sua felicidade em serem muçulmanas, apenas sinto ensejo de perguntar:
menina, porque foste à escola?
Alexandre Brandão da Veiga
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