A Síria não é árabe
E eis que as grandes migrações
começam. Bem sei que não vêm apenas da Síria, mas do Iraque, Afeganistão, Eritreia,
da África sub-sahariana.
Mas a Síria é significativa
em múltiplos sentidos. É um pais árabe, dizem-nos, muçulmano, na maioria,
sunita, em maioria relativa. Seria pois de esperar que se dirigissem para um
país árabe por excelência, muçulmano por natureza e sunita centralmente. Nada mais,
nada menos… que a Arábia Saudita.
E eis que nenhum eles pretende
ir para a Arábia Saudita.
Os célebres e ditos países
árabes não o são. São arabizados. Os árabes, os verdadeiros, os da Península Arábica,
nunca sentiram os outros como árabes na verdadeira acepção, mas apenas arabizados.
Da Síria a Marrocos os que se anunciam como países árabes deveriam reflectir sobre
a nula solidariedade da Arábia Saudita. Largam dinheiro a salafitas, financiam terroristas,
despejam fortunas em propaganda, mas não acolhem, e muito menos patrocinam o acolhimento
de supostos árabes.
Os verdadeiros árabes, os
da Península Arábica, nunca consideraram os outros como verdadeiros árabes, mas
meras imitações. No que respeita à Síria e ao Líbano e ao Egipto, os três países
mais cultos de entre os muçulmanos, os árabes verdadeiros desprezam-nos por serem
pobres e mera imitação, invejam-lhes uma História muito mais antiga e mais profunda
cultura.
Podemos perceber que os sírios
não queiram ir para o Egipto ou para Marrocos. Não são países ricos. Mas porque
não a Arábia Saudita? É rica, bem o sabemos.
É pelo clima árido que
nem pensam emigrar para lá? E quem desconhece a dureza do Inverno alemão e
sueco?
Os sírios muçulmanos preferem
a Alemanha à Arábia Saudita. Quando dobram a espinha inclinam a cabeça para Meca,
mas quando pretendem viver como homens viram-lhe o traseiro. Praticam a apostasia
com os seus pés, abjuram com a sua decisão. Dizem: Só os cristãos sabem fazer sociedades onde os homens podem viver como
homens. O islão não é capaz de o fazer. Apostasiam com os pés e não com o coração.
Esse o seu problema e futuramente o nosso.
Mas a vida tem ainda mais
paradoxos. O suposto moderno, aberto, rico de ideias, generoso governo grego
mostra-se indiferente à sorte dos migrantes. Afinal, é fresco ter um governo
com um partido protofascista, como o da independência grega. E os dois símbolos
de acolhimento e abertura nesta crise são os símbolos retrógrados por excelência:
Merkel e o Papa.
A Alemanha é rica, precisa
de migrantes, tem um problema demográfico? Mas não é isso que dizem de toda a Europa?
E, no entanto, nem todos os países têm manifestações à chegada dos comboios a
receber os migrantes e a dizer que são amados. Tanto Merkel como o Papa invocam
os valores cristãos do acolhimento. E
vemos os bem pensantes bramir discursos, mas fazer bem pouca coisa.
A comédia humana continua,
sempre com máscara da tragédia. A Europa não quer muçulmanos que apostasiaram com
os pés sem o saber, os países árabes por excelência mostram aos arabizados que não
o são, mas mera imitações, os arabizados não percebem o desprezo dos países da Península
Arábica, são as figuras da reacção a promover o acolhimento em nome dos valores
cristãos.
Delicioso Outono do
humor, prenúncio de novas tragédias. Os fracos conceitos teóricos da ciência política
comum esfarelam-se sobre os nossos olhos e ninguém os tenta reformar. Qualquer ciência
humana que não dê lugar à tragédia e à comédia não é escolar, seria elogio no
caso. É apenas pobre, pobre, pobre. Que não se deixe de olhar para o mundo
quando se olha para os livros. Que os arabizados reflictam porque pensam ir
para a Europa para se sentir humanos e não para Medina. E que os europeus pensem
se lhes basta a civilização para serem humanos quando a palavra de acolhimento recorre
sempre à mesma Pessoa.
Alexandre Brandão da Veiga
2 comentários:
sao caucasios os sirios?
Grande texto!
Enviar um comentário