Cédric Villani – Théorème Vivant / Cédric Villani – Teorema Vivo
Gauss ne montrait pas ses travaux préparatoires. Poincaré en a avoué
quelque chose, Hadamard en a un peu théorisé. Villani montre les preuves et les
documents de la naissance d’une théorie scientifique. Présentés souvent en cru,
ils peuvent épouvanter les non experts. Pourtant, l’essentiel ce n’est pas
de comprendre, en toutes ses dimensions
techniques, chacun d’entre eux. Pour comprendre la beauté de la croissance d’une plante on n’est pas tenu d’être
spécialiste en physiologie végétale et chimie organique. Les essais, les paris
éduqués, les espoirs, les erreurs, les hésitations, la vie familiale, les
relations d’amitié et sociales, les goûts littéraires et artistiques, les
préoccupations professionnels, tout ça fait partie de la création scientifique.
Tout ça montre aussi la continuité et la fécondité de la science. On fait
entendre souvent que la physique classique, tant «dépassée», est simple limite
de nouvelles théories plus robustes et plus étranges. Pourtant, elle continue à
nous présenter des surprises. L’équation
de la dynamique des fluides d’Euler, et, surtout centrale dans le parcours de
Villani, l’équation de Boltzmann sont encore objet d’étude, elles n’ont pas
révélé tous ces secrets, et sont encore fécondes soit du point de vue
théorique, soit pratique. Elles aussi révèlent un monde qui est en somme aussi
ordonné et aussi étrange que celui de la physique contemporaine.
L’étrangeté, le «contre-intuitif» est finalement un concept historique.
Poincaré étonne ses collègues en montrant l’instabilité du système solaire,
contre leurs «intuitions». Kolmogorov dans les années de 1950, en face des
«intuitions» contraires de ses collègues, démontre que le système solaire est
probablement stable. Et dans les années de 1980 Jacques Laskar démontre le
contraire. L’amortissement Landau lui aussi est un inattendu phénomène de
stabilisation dans un monde qui se croyait instable.
Dans ce livre on montre aussi la fécondité de Boltzmann, un physicien du
XIXe siècle, qui montre encore toute son actualité. Pour les littérateurs Duino
est le lieu des Elégies de Rilke, pour quelques scientifiques c’est celui où
Boltzmann s’est suicidé. Ils ont les deux autant de rigueur que d’artiste. La
création mathématique ne se distingue
point des autres créations humaines en son essence. Elle aussi participe de la
vie humaine, de ses problèmes, de ses peurs et de son imagination. Ce livre
prétend en être témoin.
Gauss não mostrava os seus
trabalhos preparatórios, Poincaré confessou alguma coisa, Hadamard teorizou um
pouco sobre isso. Villani mostra as provas e os documentos do nascimento de uma
teoria científica. Apresentados muitas vezes a cru, podem assustar os não especialistas.
No entanto, o essencial não é perceber, em todas as suas dimensões técnicas, cada
um deles. Para se perceber a beleza do crescimento de uma planta não tem de se
ser especialista em fisiologia vegetal e química orgânica. As tentativas, os
palpites educados, as esperanças, os erros, as hesitações, a vida familiar, as
relações de amizade e sociais, os gostos literários e artísticos, as
preocupações profissionais, tudo isto faz parte da criação científica.
Mostra igualmente a
continuidade e a fecundidade na ciência. Muitas vezes dá-se a entender que a
física clássica, tão «ultrapassada», é mero limite de novas teorias mais
robustas e mais estranhas. No entanto, afinal ainda continua a revelar
surpresas. A equação da dinâmica dos fluidos de Euler, e sobretudo central no
percurso de Villani, a equação de Boltzmann, ainda são objecto de estudo, ainda
não revelaram todos os seus segredos, e ainda são fecundas seja sob o ponto de
vista teórico, seja prático. Também elas revelam um mundo que é em suma tão
ordenado e tão estranho quanto o da física contemporânea.
A estranheza, o
«contra-intuitivo» é afinal um conceito histórico. Poincaré espanta os seus
colegas ao mostrar a instabilidade do sistema solar, contra as suas
«intuições». Kolmogorov nos anos de 1950, perante as «intuições» contrárias dos
seus colegas, demonstra que o sistema solar é provavelmente estável. E nos anos
de 1980 Jacques Laskar demonstra o contrário. Também o amortecimento de Landau
é um inesperado fenómeno de estabilização num mundo que se julgava instável.
Neste livro mostra-se
também a fecundidade de Boltzmann, um físico do século XIX, que ainda mostra
toda a sua actualidade. Para os literatos Duino é a terra das Elegias de Rilke,
para alguns cientistas, é o local onde Boltzmann se suicidou. Têm ambos de
rigor e ambos de artista. A criação matemática não se distingue da restante
criação humana no seu essencial. Também ela participa da vida humana, dos seus
problemas, dos seus medos e da sua imaginação. Este livro pretende ser
testemunho disso.
Alexandre Brandão da Veiga
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