Bento XVI abdicou.
Por muitas vezes e de várias formas mostrei a sua importância. Em muitos campos, mas sobretudo dois. A relação entre a Igreja e o pensamento e a relação daquela com a ortodoxia oriental. Dois temas pouco excitantes para o vulgo, mas essenciais para o futuro da Igreja.
Poucos papas concitaram como este o respeito dos pensadores, dos criadores. Foi um trabalho lento, mas cujos efeitos se vão vendo aos poucos. Ainda menos conseguiram suscitar tal respeito, admiração, e mesmo amor entre os ortodoxos. O que não impediu que entre os protestantes a sua visão cristocêntrica também despertasse interesse.
A importância destes dois aspectos já a referi por muitas vezes, precisamente por em geral estarem escondidos em cantos escuros da actividade da Igreja.
Mas os jornalistas não gostaram. O povo não gostou. Queria mais espectáculo, mais festa. Ao cansaço seguiu-se o desânimo por um ónus que nunca foi desejado e vivido mais como um martírio que um prazer.
Não gostaram de Mozart e da sua disciplina? A sua doçura é demasiado delicada para o vosso gosto? Não terão pois Mozart, mas Michael Jackson, um papa mais colorido a todos os títulos, mas que vos fará dançar noite adentro, que vos divertirá muito mais... Apenas para vos mostrar como se cansam depressa as vossas pernas e que movimento na cabeça não significa abaná-la.
A abdicação diz mais sobre o cansaço de uma época que de um papa. O que virá a seguir será tão menos dotado de doçura quando parecer ter ligeireza.