quarta-feira, 13 de julho de 2011

Aprendendo matemática e outras coisas III

Mas vejamos o fundo da questão. A tese que hoje em dia corre insurge-se contra uma concepção que se afirma romântica da aprendizagem. No entanto, em boa verdade é uma concepção meramente gestionária da educação. É verdade que na versão pública a ideologia educativa prevalecente parece ser de “esquerda”, romântica, à la Rousseau. Parece. Mas em boa verdade vejamos quais são as suas práticas: organigramas, fluxogramas, enunciação de objectivos, fichas, idolatria das competências em detrimento do conhecimento como valor. A sua lógica substitutiva e não cumulativa torna-a parente das técnicas da obsolescência induzida, típica da sociedade de consumo.

A teoria pedagógica criticada em boa verdade não é de esquerda, nem romântica. O romantismo, sobretudo o alemão, é demasiado profundo para a sua capacidade. Não é acaso que em Portugal se impôs com os chamados doutorados de Boston, que há uma décadas atrás eram sinónimos de doutorados da Farinha Amparo.

A teoria em causa é gestionária, originada nas técnicas empresariais, e julgando-se que a sua prática era romântica e de esquerda, em boa verdade tem origem americana e empresarial. A escola é analisada como uma empresa complacente com os seus clientes, no caso, os alunos. Cada cliente é especial, cada aluno é especial. Se os resultados desta pedagoga são medíocres, não é tanto pelos seus pressupostos filosóficos, mas pela intranscendência filosófica. O ensino foi entregue nas mãos de gestionários, que sob a capa benevolente julgaram tratar dos alunos como de clientes, e do ensino como um produto que tem de ter o agrado do consumidor. O professor que tenta seduzir mais não é que mais um avatar da sociedade de consumo em que o sorriso é uma forma de angariação de clientes. O seu romantismo é assim, não o de Schelling ou Rousseau, mas o da publicidade de férias numa ilha (ilusoriamente) deserta.

O problema dessas teorias pedagógicas não é tanto o de serem românticas. É o de não serem teorias e em boa verdade, mais um instrumento capitalista. Não são pedagogia, apenas marketing. O aluno é tratado como consumidor a quem se tem de agradar, a matéria a ensinar um produto que se tem de embrulhar para seduzir, sempre substituível por um novo, de preferência a deitar fora passado um certo prazo de validade. Quando descemos abaixo do reino da aparências vermos a verdadeira face das coisas. O que torna o actual ensino inútil para as empresas não é ser pouco empresarial na sua cultura, mas de o ser em demasia. É o de criar consumidores e não produtores. É o excesso de sentido empresarial que o torna inútil. Tivera-o menos, seria nos seus efeitos mais rico para todos nós. Consumo rápido, agrado do consumidor, desgaste rápido do produto, ilusão de exclusividade do cliente, estão aqui todos os traços desta ideologia. Não é em assento filosófico que se funda, mas mero resultado da sociedade que o criou. Sendo de consumo a sociedade, é igualmente de consumo a educação.







Alexandre Brandão da Veiga

1 comentários:

Carlos Pires disse...

A maior parte das pessoas que mais defendem essas teorias dizem-se de esquerda e estão sempre a criticar o capitalismo...