quarta-feira, 8 de junho de 2011

António Manuel


Conheci-te no I Congresso dos Jornalistas Portugueses, no início dos anos 80, na Gulbenkian.
Ali estavam os homens da imprensa, os rapazes da rádio e as meninas da TV.
Tu trabalhavas na RDP com um grupo assombroso de jornalistas onde pontuava Fernando Alves. Eu ainda andava na Faculdade.
A esquerda de Abril tinha aberto as portas das redacções e a Democracia definiria rapidamente uma fronteira entre os que teriam voz e os que ficavam na prateleira, alternadamente. A maioria dos media era propriedade do Estado o que facilitava essa arrumação. Numa cave da Estefânea, a TSF de Emídio Rangel fazia emissões experimentais clandestinas.
Gostei daqueles dias em que pude conhecer os injustiçados do momento. Lembro-me do cuidado que tinhas com os que não iam à Bicaense, por falta de verba, e só apareciam para o café. Lembro-me da tua calma e da capacidade de fazer pontes. Lembro-me do sentido de humor e do que ríamos com as historias caricatas do jornalismo português.
Fiquei com pena quando, mais tarde, soube que tinhas decidido ir trabalhar com os socialistas. Mas mantiveste intacta a afabilidade, a vontade de esclarecer e de fazer pontes nas conversas que tivemos de cada lado da linha.
Faria depois uma escolha parecida com a tua mas sem contacto com jornalistas para não cruzar registos. Não saberia fazê-lo como tu. Não saberia manter-me, como tu.
Que Deus guarde a tua alma.

2 comentários:

Flores da Moita....... disse...

Nunca entendi o teu desapego do Jornalismo. Assim que acabou aquela aventura que afinal não te deu nada de bom nem ninguêm merecia tal ( a tua ) dedicação, repito, ninguêm merecia nem merece, devias ter logo voltado ao melhor que sabes fazer: escrever artigos. Sejam eles "de fundo" ou singelos, são bons, camarada. Deixa-te de lirismos e volta!!!
Inês. O nome do amigo que está ao teu lado?
beijo

Inez Dentinho disse...

Simpático Flores da Moita, o amigo da fotografia chama-se António Manuel, era jornalista da RDP, depois assessor do PS e, mais tarde, de Jorge Sampaio. Morreu há pouco tempo.
Não foi uma aventura, foi bom, foi útil. Não é lirismo saber que não se volta a merecer o olhar da imparcialidade. É lucidez. Em todo o caso, obrigada pela óptimas palavras. Beijo o desconhecido.