quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Recordando Sophia III

Parece que Sophia dizia que “o socialismo é a aristocracia para todos”. Conheço esse ideal, porque foi o que durante vinte anos me moveu. Por isso Platão me chocou durante anos, bem como a crítica que fazia à democracia ateniense e o monstro que pretendia gerar na sua genial, mas triste, República. Mas Péricles morto, e o poder na mão de oportunistas e demagogos, a ralé sem desejo de igualdade, mas apenas pretendendo ser mais que os outros, tiraram-lhes as ilusões. Nesse aspecto a herança iluminista é mais lúcida. Como dizia Voltaire, esse grande antecessor da democracia como se diz: “ a democracia é o governo da canalha”. Mera proclamação como tantas que fez, ou resultado de maior reflexão? Com Voltaire nunca se sabe. Os seus apreciadores correm sempre o risc[...]
(mais)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Recordando Sophia II

Amava a Grécia. É certo que não tinha a erudição de Hölderlin ou Goethe, mas isso diz muito das dificuldades culturais da época. Só quem andou procurando durante décadas livros das Belles Lettres e da Loeb (ou para quem pode, da Teubner) sabe como era difícil encontrá-los. Para além da velha Buchholz, nada havia em Portugal que os vendesse. Mas a sua ligação directa à terra permitiu-lhe intuir bem mais que muitos eruditos que fazem da filologia profissão. Despojada, apanhou mais de Arquíloco e Safo que muito estudante de filologia. Não era bem a terra que a inspirava, mas a capacidade de ver nela a ressonância das suas memórias. A sua ligação à Grécia era directa, menos intelectual, mas talvez por isso no seu caso muito vívida.

O seu estilo eleva-nos. N[...]
(mais)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Recordando Sophia I

A primeira vez que ouvi falar em Sophia de Mello Breyner era criança. Tinha em casa uns livros dela que li, mas confesso que não me lembro quais fossem. Diziam-me que eram muito bem escritos, que em Portugal, ao contrário de outros países como a Inglaterra, a literatura infantil não era grande coisa, mas que Sophia era um oásis nesse deserto. Poderia ser que sim, mas havia poucos livros infantis de que me recordo ter gostado realmente.

A vez seguinte que ouvi falar nela foi em Amarante, onde eu passava férias. Na Casa da Cerca indicaram-me um rapaz e disseram-me. É filho da poetisa Sophia de Mello Breyner. Era casa de poetas, onde a memória de Teixeira de Pascoaes ainda estava presente, e por isso era natural que não dissessem que era filho do Francisco[...]
(mais)