quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A política ambiental II

As necessidades geoestratégicas convencem-me igualmente.

Em primeiro lugar porque a Europa, como todo o mundo dito ocidental, é energeticamente dependente. E dependente de zonas instáveis sob o ponto de vista político. Médio Oriente, Maghreb, Ásia Central, entre outros. Uma das vantagens das energias renováveis é o de se poderem fixar na Europa. Existem obviamente projectos faraónicos, como o de transformar o Saará e parte do Maghreb em central solar para a Europa. Mas esse seria o pior erro estratégico. Seria deitar dinheiro para zonas instáveis e não aproveitar a oportunidade de mais independência energética.

Em segundo lugar pela possibilidade que gera de renovação tecnológica e económica. Os choques petrolíferos foram lições para a Europa, que aumentou a sua eficiência energética, reformou completamente materiais de construção, aumentou a sua independência energética em graus diversos, criou novas tecnologias. O padrão de fornecimento energético que se seguiu no pós segunda guerra mundial é típico de um pensamento, não colonial, mas em boa verdade pós colonial. As maiores explorações das colónias ocorrem no fim do período colonial mas sobretudo posteriormente a ele e sem os custos de um império. O problema é que um império tem ao menos a vantagem da dominação directa e gera mais estabilidade política enquanto é sustentável.

Os países nórdicos beneficiaram de uma inteligente concepção ambientalista, antecipando-se na criação de electrodomésticos e carros mais eficientes, por exemplo. As possibilidades de ligação entre investigação fundamental e aplicada (desde que a Europa as saiba bem aproveitar) só podem ir a benefício da Europa.

Estas as razões que me convencem quanto à política ambiental. Mas temos de enfrentar a questão dos efeitos globais. São os que mais impressionam, os que mais suscitam medos religiosos ou despudor sacrílego.

2 comentários:

Manuel Rocha disse...

Acompanho-o. Gostava de deixar duas pequenas notas laterais.

1." ... a Europa, como todo o mundo dito ocidental, é energeticamente dependente." Absolutamente verdadeiro. Mas talvez fosse interessante sublinhar que a dependência bem assinalada se refere ao paradigma de consumo instalado, e não a uma dependência estrutural abstracta.
2.Há um aspecto geoestratégica daquela dependência energética que tb merece análise: a dependência alimentar.

Cumprimentos.

Táxi Pluvioso disse...

Isso das renováveis é apenas uma moda, como o verde ou o biológico, uma marca para vender aos preocupados. A energia produzida dessa forma nunca chegará para as necessidades do "mundo civilizado", e se vier o carro eléctrico, quero ver o aumento do preço da electricidade controlar o seu consumo, e partes da população de vela ou candeeiro a petróleo (ó the good old times).