quinta-feira, 8 de abril de 2010

Armas, autores e alibis de um crime imperfeito


Devagar e de repente a verdade dá-se a conhecer.
Em 2004 testemunhei directamente aquilo que agora, através do depoimento de Miguel Pais do Amaral, se pôde saber melhor: que a «TVI funcionou como plataforma de derrube desse governo».
Trabalhava no Gabinete do Primeiro-Ministro e, por duas vezes, fui contactada por pessoas da TVI que não escondiam o incómodo com o alinhamento editorial do casal Moniz-Guedes contra o XVI Governo Constitucional. Também Miguel Pais do Amaral manifestava internamente o seu distanciamento em relação ao carácter persecutório dos conteúdos dos serviços informativos.
Essas pessoas questionavam-se sobre o que poderia ser feito para alterar o estado de coisas. Por vício profissional e dever institucional respondia que essa era uma questão interna da TVI sobre a qual o PM não quereria mexer uma palha.
Sabia que Miguel Pais do Amaral devia estar numa situação de grande embaraço porque tinha uma prática respeitadora da autonomia dos jornalistas e dos seus editores (trabalhara sob a sua administração n'O Independente). Pior: todos os Domingos o seu cunhado Marcelo Rebelo de Sousa reforçava o pendor de alinhamento censório sobre o Executivo o que agravava o desagrado do accionista da TVI.
Como se sabe, com o pedido de contraditório de Rui Gomes da Silva, em Outubro de 2004, Marcelo aproveitou para sair pondo a responsabilidade no Governo. Depois foi a Belém ampliar o acontecido e à ERC alistar motivações que nada tiveram a ver com o acontecido (cito post de 26/02/10). Na ERC, como Marcelo agora disse, Pais do Amaral não expôs publicamente as críticas que terá feito internamente a Moniz. Nem podia fazê-lo: ou conseguia o seu despedimento ou evitava expô-lo em público. E, com a estrondosa saída do comentarista, perdera condições para uma remodelação interna.
O derrube do Governo resultou, também, devido a outros factores que se conjugaram. Mas, tal como num policial bem investigado, descobrem-se agora armas, autores e alibis de um crime sem castigo.

9 comentários:

Ricardo Alves Gomes disse...

Fenómeno curioso, este, para não dizer, no mínimo, "pitoresco", Inez.

Passadas 24 horas de incubação e muitos visitantes sobre o seu post, N-I-N-G-U-É-M tecla o mais pálido dos comentários...

Rolhas nas pontas dos dedos? Terão os gatos comido as línguas de alguns meninos? Ou estarão estes engulhados, cabeças ainda mergulhadas em retretes, por terem de engolir os próprios lanços?

Inez Dentinho disse...

Sempre escrevi para forrar os caixotes do lixo do dia seguinte. Essa a vocação dos jornais.

Anónimo disse...

Não duvido das movimentações dos media para derrubar o Governo Santana Lopes. Mas, os media não foram a razão que levou ao derrube do Governo. Há uma personagem central neste folhetim. O então Presidente da Republica Sampaio que, em fim de mandato, precepitou os acontecimentos para conseguir a eleição de um Governo de maioria socialista. Creio que «o golpe de Estado constitucional» é o que mais se adequa para descrever o que se passou com a demissão do governo Santana Lopes.

Hugo Correia disse...

Inez,

Convido-te a visitar(e ao sr. Ricardo Alves Gomes), se ainda não o fizeste, o blog de Pedro Santana Lopes. Podia tê-lo feito aqui também. Assim enchia a caixa de comentários e talvez evitasse o primeiro.

Inez Dentinho disse...

Caro Hugo Correia, obrigada pela sugestão. Conheço bem o texto que é oportunamente citado.

para mim disse...

Inez, ainda alguém explicou que a última intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa - ainda antes sequer de Rui Gomes da Silva ter pedido o direito ao contraditório - fora de um escassos minutos, pois a TVI tinha-o já "entalado" entre jogos de futebol e a "quinta das tias", como ele chamou ao programa nessa mesma intervenção?

Inez Dentinho disse...

Caro «Para mim», por isso digo que a saída de Marcelo rebelo de Sousa foi uma questão interna da TVI que teve início ainda antes da tomada de posse do Governo e que se agravou com a sua prestação durante o Verão de 2004 (post de Fevereiro). Talvez seja até relativamente injusto para MRS uma vez que o principal alvo interno era o casal Moniz.

pimpão disse...

Como se fosse preciso derrubar Santana Lopes...
como se Santana não soubesse fazer isso sozinho...
Bahhh...

miguel vaz serra....... disse...

Ricardo Alves Gomes, às vezes o silêncio vale mais que mil palavras....Mais quando se tem respeito por quem escreve.
Inez, se você escrevesse para forrar caixotes do lixo, nós não andávamos aqui a beber as suas palavras. Já "frequentei" outros blogs e deixei de.
Quando você escreve eu sempre leio com muita atenção. Uma vez até me queixei do seu silêncio.
Neste caso e post, por razões óbvias, não posso/devo/quero comentar mas concordo com todos os que li aqui. Tudo tem um pouco de verdade....