segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Arrogância e grosseria


Não cito nomes. Mantenho a minha regra de não imortalizar medíocres. Interessa-me o fenómeno mais que os seus espécimes exemplificadores.

Vê-se hoje em dia muitas vezes a acusação de arrogância sobretudo em relação a políticos. A visão que as pessoas têm da arrogância parece-me algo distorcida. E frequentemente injusta.

O conceito é dos mais estranhos e deixou-me perplexo bastante tempo. Quando se pensa em arrogância vem-nos a imagem de alguém que puxa para si alguma coisa. O problema é que de origem esta vem do verbo “rogo, as, are aui, atum” e este não indica um movimento para si, mas de nós para outrem. Um movimento para fora.

O primeiro passo não nos ajuda. Olhemos para o prefixo. Se arrogar viesse de “ab-rogare” a coisa estaria resolvida. Alguém lançando para a frente puxa para si (”ab”) porque tira “de”.

Mas mais uma vez surge aqui um problema. É que o prefixo é “ad”, de aqui para lá, de nós para outrem. Ab-rogar é o herdeiro português de “ab-rogare”. E significa bem revogar, desfazer, pedir para tirar, tirar o que se tinha posto. Mas o prefixo é outro, é “ad”. Que mais uma vez significa de nós para outro. Péssima situação a nossa. Continua o mistério. “Rogare” é sempre algo que se atira para fora de nós, e ainda por cima reforçado por “ad”.

A imagem comum de que quem se arroga puxa algo para si parece falsa, então. Duplamente falsa, porque o movimento para fora é duplo, o de “ad” e o de “rogare”. Continua a perplexidade.

Ma o Direito Romano criou uma expressão “arrogare sibi”, arrogar para si. Eis a solução. Por isso ainda hoje em dia o verbo em português mantém a reflectividade. Não usamos o verbo arrogar, mas “arrogar-se”. Um movimento para a frente duplamente forte. E apenas para o voltar para si.

O arrogante é como o pescador que lança com força a rede para depois a agarrar e a puxar para si de novo.

Estando resolvida a questão etimológica, ficamo-nos com o problema moral. Porque desagrada o arrogante? É assim tão ilegítima a arrogância?

Não me parece que seja assim tão ilegítima a arrogância. Alguém que demarca as suas terras apenas para exercer os seus direitos pode não ser paradigma do absoluto cristão, mas está no seu direito. Sem mais não pode ser condenado por isso. Sejam as suas terras um minifúndio ou um império.

É evidente que a arrogância desagrada aos outros. Sobretudo quando é legítima. A ilegítima suscita o ridículo, a revolta, mas não tanto do desagrado. É evidente que Carlos Magno era desagradável para o rei dos Lombardos. Alexandre foi agastante para os seus generais. Beethoven desagradou a muitos. E Mozart estava longe de ser um santo para com quem o rodeava. Para já não falar desses grandes arrogantes que eram Churchill e De Gaulle, que tanto irritaram medíocres que os rodeavam.

A arrogância legítima é até a que deixa mais dor em quem a circunda. Não apenas ser pequeno, mas ter a nossa pequenez lembrada por terceiros, é doloroso. Mas essa dor diz mais sobre a pequenez de quem a sente que sobre a ilegitimidade de quem a provoca.

O problema da nossa época é o de não cultivar o sentido da propriedade, a noção da correcção da linguagem. As palavras são usadas debalde. Alguém as larga fora do campo adequado e todos as usam.

A demonstração negativa levou-nos tempo, mas foi necessária. Tantos usam incorrectamente a palavra “arrogância” que se tornou evidente que é dela que se trata. Mas existe arrogância legítima, já o vimos. E a arrogância tem cura, nem que seja pela sua satisfação.

Não é de arrogância que se trata, mas de grosseria. A grosseria está nos genes, cultiva-se em família, aperfeiçoa-se com o convívio. Passando o paradoxo: o grosseiro afina-se. Julga-se determinado e é apenas impulsivo, julga-se interveniente mas apenas o marca a inconveniência. Que as pessoas andem agastadas com a arrogância não percebo. Que a grosseria as repugne só aplaudo. Desde que não padeçam do mesmo vício.





Alexandre Brandão da Veiga

6 comentários:

Pedro Monteiro disse...

A arrogância NUNCA é legitima, por muita competência e cultura que se tenham, é sempre um sinal de menoridade mental !
Orgulho ponderado sim,arrogância nunca !
Cumprimentos
Pedro Monteiro
Cascais

Anónimo disse...

Este! Blog! é| Livre! de Pontos! de Exclamação!

Avé!

Anónimo disse...

verificação de palavras: untorch

(Don't follow me)

Coveiro de Portugal disse...

Viva o Rei de Espanha Juan Carlos de Borbon

Este é o nosso futuro chefe de estado, nosso Rei Juan Carlos de Borbon.
Portugal esta entregue aos bichos e maricas.
Temos uma oportunidade única, acabar com o estado Portugues, e nos tornarmos em uma provincia do GLORIOSO REINO DE ESPANA.
Nunca deveriamos ter nos tornado em País, maldito seja DOM AFONSO HENRIQUES até aos quintos dos infernos.
Quero aqui deixar meu repto; abandonemos a nacionalidade portuguesa e no transformemos em ESPANHOIS ORGULHOSOS.
Bem haja a todos.

Publicada por Coveiro de Portugal

Diogo disse...

Mas com a Gripe A a coisa chia mais fino:

Jornal Nacional da TVI (7 de Setembro de 2009) - o embuste da Gripe A e os biliões ganhos pelas farmacêuticas com o medicamento Tamiflu

Jornalista da TVI: Um dos homens que mais tem lidado com a Gripe A em Portugal é o Director do Serviço de Doenças Infecciosas do Hospital Curry Cabral. Fernando Maltês afirma que a Gripe A vai matar menos gente do que uma simples gripe sazonal (gripe comum), que é mais inofensiva e trata-se, na maioria dos casos, com antipiréticos. O Director Geral de Saúde Espanhol é da mesma opinião.

Director Geral de Saúde Espanhol: Se morrem muitas pessoas em Espanha por contaminação atmosférica, ninguém presta atenção. Ou se morrem tantas pessoas por fumar, ninguém lhes presta atenção. Mas se, pelo contrário, morrem duas pessoas com gripe, presta-se muita atenção. É lógico, eu entendo, mas pouco a pouco a sociedade tem que amadurecer e dedicar o tempo que cada problema requer em função da sua gravidade.

Dr. Fernando Maltês: O Tamiflu, desde o princípio desta pandemia, tem sido encarado pela população como uma espécie de fármaco milagroso, o que não é verdade. E no que diz respeito à eficácia, concretamente no vírus da gripe, é uma eficácia que está, digamos, mal documentada. Se houver um conjunto de factores que digam – vale a pena administrar o fármaco – o médico administra, caso contrário, balançando os efeitos benéficos com os potenciais riscos, é preferível não administrar.


Jornalista da TVI: Já lá vão quatro meses desde que foi confirmado o primeiro caso de Gripe A em Portugal e, até agora, não há qualquer morto a registar. Em média, por ano, morrem em Portugal mais de mil e quinhentas pessoas de gripe, sem aberturas de telejornais e sem a Ministra da Saúde todos os dias nas televisões.

A verdade é que o mundo está preocupado com a Gripe A e já há empresas a ganhar milhões à custa do H1N1 (vírus da Gripe A) . A farmacêutica Roche, por exemplo, cujas vendas do seu Tamiflu caíram quase 70% quando o mundo percebeu que já não havia perigo de uma Gripe Aviária, vê agora as vendas desse mesmo medicamento dispararem em mais de 200%.

Ajuda importante também para a Glaxo Smith Kline, o laboratório britânico a quem Portugal já encomendou seis milhões de doses da vacina contra a Gripe A, a 8 euros cada uma (48 milhões de euros) , teve um ano difícil do ponto de vista financeiro. Eis senão quando, surge o tal vírus, H1N1, que deverá render, só ao laboratório britânico, cerca de dois mil milhões de euros, tendo em conta que as encomendas estão quase a atingir as trezentas milhões de doses.

VÍDEO da notícia na TVI

Maria Ribeiro disse...

Brandão da Veiga: o seu modo de ver e encarar o problema da arrogância é ,quanto a mim, o mais correcto, até porque, nomear os arrogantes é dar-lhes uma importância que eles pensam ter...
Mas sou-lhe sincera:"derreto-me "toda a nomeá-los... Que me venham prender...
ABRAÇO de LUSIBERO