domingo, 10 de maio de 2009

Bloco central ?

Há cerca de 15 dias, numa entrevista que deu a Mário Crespo, na SIC, Manuela Ferreira Leite terá dito algo que fez parecer a Augusto Santos Silva que ela estaria a abrir a porta para a formação de um futuro bloco central. Caiu-lhe tudo em cima, como de costume, mas desde então não se fala noutra coisa. Debates nos meios de comunicação, afirmações de políticos (sobretudo de dirigentes e ex-dirigentes socialistas), comentários de comentadores, insinuações de jornalistas… enfim: não se fala de outra coisa.
José Sócrates, entretanto, do alto da imponência a que o obriga a sua estratégia de comunicação, não fala sobre o assunto, mandando alguns ministros e deputados, porém, dizer sobre o “assunto” que a questão é prematura, já que o PS luta apenas e ainda por uma maioria absoluta. Manuela Ferreira Leite, pelo seu lado, sem qualquer estratégia de comunicação, disse que a hipótese do bloco central, em abstracto, é obviamente possível, mas que, em concreto, sendo ela presidente do PSD e José Sócrates secretário-geral do PS, é uma absoluta impossibilidade. Isto ao mesmo tempo que outros militantes do PSD diziam também coisas sobre o assunto, nem sempre concertadas com o discurso da sua líder.
Enfim, a confusão instalou-se e toda a gente fala sobre este “desassunto”. No meio da confusão, porém, há algo em que vale a pena reparar: os pressupostos da discussão. É que, embora me pareça que a tropa do circo da política mediática não se tenha apercebido disso, todo o debate sobre o eventual bloco central assenta unicamente sobre a hipótese da vitória do PSD nas próximas eleições legislativas – coisa que, no entanto, até agora ninguém admitia.
De facto, atendendo às sondagens, se o PS ganhar as eleições com uma maioria relativa, as soluções para um governo estável apenas excluiriam, em princípio, uma coligação com os Verdes. Com efeito, quer com o BE, quer com o PCP, quer com o PSD, quer com o CDS/PP, o PS teria hipótese de constituir uma maioria absoluta na assembleia. Assim, embora eu creia que muita coisa vai mudar até lá, o facto é que, no caso de uma vitória do PS nas eleições legislativas - e de acordo com as actuais sondagens - não se vê qual é a necessidade do dito bloco central.
Agora, se o PSD ganhar as eleições, de acordo com o estado actual das sondagens e excluindo a hipótese de uma coligação com o BE e com o PCP, não se vê que fosse possível um apoio estável ao governo por meio de uma coligação entre o PSD e o CDS/PP, pelo que, aí sim, seria imperioso pôr-se a hipótese da constituição de um bloco central, sendo que Ferreira Leite nunca o faria, como já disse, com José Sócrates.
Em qualquer caso, portanto, o bloco central, de que tanto se fala, não acontecerá, a não ser que o PSD ganhe as eleições e o PS troque de secretário-geral, pois que com este Ferreira Leite não faz acordos. O interessante, assim, é que pela primeira vez toda a gente põe abertamente a hipótese (embora, ao que parece, sem verdadeira consciência disso) do PSD ganhar as eleições legislativas. Convenhamos que é um ponto de viragem. A continuar assim, quando chegarmos a Julho, teremos as televisões a falar sobre as vantagens de uma maioria absoluta do PSD (por comparação com uma sua vitória com maioria apenas relativa) no quadro de uma estabilidade governativa favorecida, nesse caso, pela boa relação pessoal e institucional de Manuela Ferreira Leite com Cavaco Silva.

3 comentários:

Luis Melo disse...

Portugal visto de foraVisto através do www.economist.comThe Portuguese are among the glummest people in Europe [...] Within the European Union, only easterners from Hungary and Bulgaria are similarly morose [...] This year GDP is expected to contract by 3.5%, lifting unemployment to about 8.5% [...] The Portuguese borrowed heavily to buy houses, cars and airline tickets [...] Productivity failed to keep up [...] As the IMF states in a recent report, the country’s fundamental problems are domestic, not global, in nature. But political leaders find reforms hard to push through

Redonda disse...

2 comentários a este artigo:
1º não sei porque não é possível um acordo com o CDS;
2º se o PS perder as eleições é provável que José Sócrates peça a demissão. Será que a Dra. Manuela Ferreira Leite fará coligação com quem quer que o suceda?

Gonçalo Pistacchini Moita disse...

Redonda, quanto à primeira pergunta, a coligação entre PSD e CDS/PP não parece provável porque, de acordo com os actuais indicadores (agora diz-se assim) será difícil formarem juntos uma maioria absoluta.
Quanto à segunda pergunta respondo com dois não seis. Não sei quem seria então o líder do PS e não sei se Manuela Ferreira Leite faria com ele qualquer tipo de coligação.
Se tivesse que apostar, no entanto (sendo que, graças a Deus, não tenho), diria que não.
Beijinhos
Gonçalo