A orquestra de Kinshasa
De vez em quando é bom levarmos uma lição que nos arrase de alto a baixo. Em Kinshasa, no meio de um caos que muitos de nós nunca conheceram e, felizmente dir-se-ia, nunca conhecerão, há homens e mulheres que conjugam uma vida atribulada e perigosa, com uma paixão inesperada pela música clássica ocidental.
Juntos, e juntos são 170 músicos e cantores, formaram a Orquestra Sinfónica de Kinshasa, num dos musseques da cidade. Dizem-me que houve uma alma abençoada que decidiu fazer um filme sobre estes gigantescos heróis do nosso tempo. Basta-me ver este vídeo de tão poucos minutos para ficar convencido de que temos tudo a aprender sobre a dignidade humana e de que devemos meter pela sanita abaixo as nossas depressõezinhas da hora do chá quando vemos a tão bela alegria destes sorrisos luminosos.
Confesso que fiquei perdidamente apaixonado por Joséphine, a celista, de olhos negros, altas maçãs do rosto, lábios grossos e sorriso tão suavemente agri-doce. “A música para mim é rezar pela segunda vez. Rezo e depois de rezar, eu canto”, diz ela.
Confesso que fiquei perdidamente apaixonado por Joséphine, a celista, de olhos negros, altas maçãs do rosto, lábios grossos e sorriso tão suavemente agri-doce. “A música para mim é rezar pela segunda vez. Rezo e depois de rezar, eu canto”, diz ela.
Eu, que não sei cantar, rezo com ela, rezo para que estes rostos continuem felizes, eufóricos, tão ferozmente orgulhosos e inspiradores.
Agradeço ao meu amigo António Eça de Queiroz, do Pnet Homem, a revelação deste extraordinário documento.
6 comentários:
Tenho ouvido ultimamente a da Guiné.
Será que o nosso único colega de sucesso voltará? bfds
Taxi,
o nosso colega, agustiniano e mediavalista, já prestou públicas declarações. Pode não cantar, mas pelo menos fala. Julgo que não abdicará do sucesso. have a nice weekend too
É fantástico, Manel. Obrigado.
É realmente fantástico e é um exemplo de vida que todos devíamos conhecer. Assim não nos queixávamos tanto.
Meu caro Manuel S. Fonseca,
Isto é uma magistral lição de dignidade humana. É à procura de pérolas como esta que de vez em quando visito este Geração de 60 - mas, deixe-me que lhe diga, na maior parte das vezes só aqui encontro depressõezinhas da hora do chá. Fiquei cliente do Pnet Homem, que não conhecia
Que bom que era que o pessoal de Kinshasa se soubesse tão apreciado. Espero que o filme - que é dum francês - os recompense como merecem. Queria agradecer os comentários e dizer ao anónimo - provavelmente já dialogámos no passado e já sabe que me daria muito prazer tratá-lo/a pelo seu nome - que a Geração de 60 (sem prejuízo de ter "as suas fases") se alguma característica tem é a de uma seriedade de abordagem dos temas. Se às vezes tendemos para uma certa ligeireza (entre o chá e o café com cheirinho), bem me pode apontar o dedo a mim, que sou dos mais culpados. Obrigado por nos visitar.
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