segunda-feira, 9 de março de 2009

I. Porfírio, Sullo Stige, Bompiani 2006



Houve uma época feliz em que os deuses antigos já tinham morrido e o novo não tinha nascido. Isto teria sido no século II depois de Cristo no império romano. Tese de quem? De Marguerite Yourcenar nas “Memórias de Adriano”.

Ideia simples? Sem dúvida. Mas cheia de vícios. Em primeiro lugar, a ideia não é de Yourcenar, mas de Renan. Renan era um genial estilista, um homem de grande erudição. Mas quando não nos deixamos impressionar apenas por isto e não perdemos sentido crítico, conseguimos ver um pouco além disso. Renan levou uma vida inteira em desesperada procura de vazios de cristianismo ou, o que é o mesmo, de suas alternativas.

Foi o mesmo Renan que achou que o mitraísmo tinha vocação para ter sido a alternativa ao cristianismo, quando a investigação mais recente (Turcan, v.g.) mostra que esteve sempre bem longe disso. O mesmo que tentou encontrar numa espécie de positivismo poético de base filológica uma alternativa para o sentido do mundo.

O que Renan diz é sempre maravilhoso, mas suspeito, portanto. O século II, e a dinastia dos Antoninos, esteve longe de ser um vazio de religião. Antonino Pio segue-se a Adriano e talvez tenha sido o último imperador plenamente imbuído da religião clássica romana. Plutarco viveu no mesmo século e estava bem longe de ser um irreligioso. Os cultos de Cibele, Serápis, Ísis, Mitra prosperam. A generalização histórica produz efeitos poéticos, mas é luxo para poucas mãos. Sobretudo no que respeita ao sentimento, e ainda mais ao sentimento religioso.


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