quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Uma Torre


Aos domingos visitamos museus e edifícios históricos, palácios e castelos.
Neste domingo calhou ser a Torre de Belém.

A Torre de Belém não é grande,é pequena.
No primeiro andar temos uma sala, uma sala pequena. Terá, se tanto, setenta metros quadrados,chama-se a sala do Governador. É a divisão mais importante da Torre. Tem janelas a nascente,a norte e a poente.

Do lado nascente tem uma placa que diz (eu copiei):" Os Governadores da Torre de Belém"
Continua: " O cargo de Governador da Torre de Belém foi desde sempre de prestígio e de distinção real. Para residência de sucessivos Governadores da Torre de Belém foi construído nas suas imediações um palácio."
Elenca de seguida os Governadores,suas valias e contributos, condes, nomes muito compridos, gente ilustre.

Deixem-me ver se percebo:

Primeiro entendeu-se que a Torre de Belém era muito importante;
Depois nomea-se um Governador;
O Governador tem de morar nalgum sítio;
Constrói-se um palácio;
Cobram-se impostos para financiar o palácio.

Isto tem quinhentos anos, ninguém nos pode acusar de falta de coerência.

4 comentários:

Anónimo disse...

Li em tempos um artigo do Prof. Soares Martinez, que falava justamente de impostos e de como, séculos atrás, quem se propunha levantá-los tinha de os justificar adequadamente e existia (pelo menos em teoria) o direito de contestar impostos considerados injustos.
Fiquei com a ideia de que quem pagava impostos era tido em conta, quer na cobrança e quantia, quer no destino de cada imposto; havia, em suma, uma espécie de parceria entre o Estado e o sujeito contribuinte.
Li algo de semelhante num livro de Jacques Heers sobre a Idade Média.
No fim das suas linhas podemos perguntar : será hoje a filosofia que subjaz à prática contributiva a mesma de há 500 anos, e a sua eventual evolução
um progresso ou um enfraquecimento da sociedade?

João Wemans

Sofia Rocha disse...

A questão que levanta é muito pertinente e claro, matéria por excelência de qualquer disciplina de finanças públicas.

Todavia,detive-me neste caso por causa da sua lógica intrínseca:
- Quem e porquê é que declarou que a Torre era de grande prestígio?
- Porque é que tinha de ter um Governador, não podia não ter?
- Porque é que não se escolhia alguém que já tivesse habitação condigna, que não obrigasse por isso a construír um palácio?

Obviamente que em 500 anos há outra filosofia e outras práticas, mas há uma mesma recusa em fazer perguntas.
Questionar, discutir, ponderar, não parecem ser atributos portugueses.

Anónimo disse...

De Finanças Públicas nada percebo. Apenas tive uma aula com o 'saudoso' prof. Martinez - o que foi suficiente para abandonar o curso e mudar-me para a faculdade do outro lado da alameda. Quanto à Torre de Belém, sei qualquer coisinha. Sugiro à dr.ª Sofia um livro: "A Arte do Manuelino", do prof. Mendes Atanázio. Vem lá tudo explicado. Digo-lhe, apenas, que a torre não servia para defesa:era uma espécie de posto alfandegário. O governador não habitava num palácio construído nas proximidades, mas numa dependência contígua à Igreja de Santa Maria de Belém, naquela arcada onde hoje funicona o Museua de Marinha. A torre sofreu acrescentos e obras, tal como o mosteiro, sobretudo na época romântica do séc. XIX. Leia o livrinho que vem lá tudo. Já dizia o prof. Orlando Carvalho: "Jurista que só sabe de Direito nem de Direito sabe".

Sofia Rocha disse...

Sr. Anónimo, não faça muito caso do que eu digo.
Aliás, eu nem sou de Lisboa, licenciei-me em Coimbra, e justamente porque não conheço é que ando fazer passeios turísticos.
Tomei por boa a informação que está afixada no primeiro andar da Torre e apenas tive o cuidado de a transcrever para um bloco de notas.
Se é verdade o que afirma, deve de imediato entrar em contacto com as autoridades competentes e dar conta do erro.