sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

" A quadratura do Círculo"


Política e media, dois universos distintos, com regras próprias.

Para quem observa sem dominar as regras de nenhum desses sistemas, percebe facilmente que têm espaços, compassos e "tempos" próprios.
Como observadora do fenómeno acho-o muito interessante.
Neste blog coexistem pessoas ligadas aos media, outros ligados à política, pessoas mais conhecedoras de ambos os domínios do que eu, é possível por isso que ( também )neste tema não concordemos.

Há um par de meses, o programa Quadratura do Círculo da Sic-Notícias foi filmado na Figueira da Foz, fora do estúdio normal. O mesmo moderador, dois convidados habituais, Pacheco Pereira e Lobo Xavier e em vez de António Costa, Rui Rio.

Gostei muito de ver aquele programa, foi muito interessante... porque correu mal! Tive oportunidade de perceber porque é que correu mal.
Rui Rio, embora político experimentado e Presidente da Câmara da segunda maior cidade do país, não dominava o meio (a TV), perdia-se nas ideias, não concluía, dava exemplos, parecia crispado.

Vista de fora a tv parece fácil. Naquele momento, quando um "corpo" estranho foi introduzido naquele espaço, parecia um grão na engrenagem.
Aquilo que parece fácil, quatro pessoas, num estúdio, 50 minutos, 3 temas, é afinal mais difícil: exige técnica, profissionalismo ( entenda-se, as regras daquele meio). Naquele dia percebi, por exemplo,que os exemplos longos eram proibidos.

Não sei se foi impressão minha, mas pareceu-me que Pacheco Pereira que zurze habitualmente nos media e na sua má-fé - mas que claramente domina as técnicas e o meio- parecia divertido com a inabilidade do colega de partido. Naquele dia foi patente que não havia má-fé de ninguém, só a falta, pelo político, do domínio de uma técnica específica.

Já vi Marcelo Rebelo de Sousa gastar um programa na RTP2 para distinguir opinião e comentário. Já vi o Miguel Sousa Tavares gastar uma página na Bola para distinguir isenção e independência.

Opinião, comentário, isenção, independência, tanto se me dá.
Tenho gostos e preferências, gosto dos media, gosto da política. Tomo parte, sou militante de um partido político.

Armada dos meus gostos, preferências e ideologia, faço um esforço permanente para que não me toldem o juízo, nem me retirem o bom-senso.
Como política não terei de me esforçar por esconder as minhas preferências.
Mas como política, e se quiser aceder aos media, tenho de me esforçar por compreender e dominar as regras próprias desse sistema.

( a continuar )

3 comentários:

Anónimo disse...

Sofia
Faz muito bem em escrever sobre este tema. Como prometeu continuar, lanço uma acha para a fogueira. Há muito tempo que me interrogo sobre as dificuldades e problemas que mais tarde ou mais cedo nos vão ser criados pela indistinção cada vez maior que hoje existe entre o político e o jornalista. Lado a lado estão, todos os dias, o político que comenta, que opina, que tem os seus próprios programa de televisão e coluna de jornal, fruto de um determinado nível audiência; e o jornalista que intervém, que concorda e que discorda, que escreve, discursa e disserta, que interrompe, desmente e propõe. Qual é o político? Qual o jornalista? Francamente não sei. Quem age? Quem informa? Francamente não sei.
Como exemplo da perplexidade lembro aqui o facto de, no seu último comentário na RTP, Marcelo Rebelo de Sousa ter gasto cerca de 5 minutos a comentar o comentário que na semana passada tinha feito à actuação política de Manuela Ferreira Leite. Fê-lo como político? Como jornalista? Comentou como jornalista o que disse como político? Como disse, francamente não sei.
Fica aqui a achega.
Um beijinho

Gonçalo Pistacchini Moita disse...

Sofia, vi agora que o comentário atrás ficou anónimo. Mas foi por mera distracção. Era meu. Fica aqui reconhecida a autoria e renovado o pedido.

Sofia Rocha disse...

Ainda bem que se identificou Gonçalo,eu já andava a cismar sobre quem seria o anónimo atrevido que me enviara um beijinho.