quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Generation Gap

Nos anos oitenta, nas aulas de inglês do liceu, ouvi pela primeira vez a expressão "Generation Gap". Esta era usada essencialmente para tipificar o comportamento dos jovens rebeldes dos anos sessenta que, de melena, ou guedelha, ouvindo os Beatles, desfiavam a autoridade paterna.
Era fácil perceber o conceito e nunca mais pensei no conceito, até agora.
Há poucos dias li Marcelo Rebelo de Sousa a dar as boas vindas aos clube dos sexagenários a Pacheco Pereira. Vi o Mário Crespo a entrevistar Alberto João Jardim, ambos a dizerem que já tinham essa idade. Poderia acrescentar Miguel Júdice, António Barreto, Manuel Alegre, tantos outros.
Essa circunstância, mais do falar dessa pessoas - ouço-os, leio-os, concordo ou discordo do que dizem, do que escrevem - mostra-me uma sociedade - a nossa - que quase só se expressa por vozes que são herdeiras de referências e de um mundo que já não existe.
Quem tem trinta anos, possivelmente cresceu em democracia, frequentou infantários, tem pais divorciados,fala línguas, tem amigos e parentes a viver noutros países, viajou, fez estágios não remunerados, já trabalhou em cinco sítios diferentes, navega na net, é adepto incondicional das novas tecnologias, recicla lixo, tem os maridos a ajudar em casa e que levam os filhos ao parque.
Para com os nossos mais velhos, não é ingratidão, falta de reconhecimento, nem ignorância, é apenas uma sensação de distância, de chá frio. Sentimos aquela empatia de vaga pertença que experimentamos relativamente aos parentes mais afastados e que vemos só de vez em quando.
Do meu ponto de vista, esta circunstância explica a falta de interesse da minha geração pela vida política e pela coisa pública em Portugal.
É uma questão de desfasamento, de falta de reconhecimento, de falta de identificação.
Lembram-se daquela canção, de fazer chorar as pedras da calçada, do Rui Veloso que falava de um concerto no Tivoli e sobre a lição de não se amar quem não houve a mesma canção?
É isso mesmo.
Porém, é forçoso reconhecer que este Generation gap só irá desaparecer quando a minha geração deixar o conforto e a segurança do lar e fizer por participar, por ser parte, por ajudar, por ser a voz de outros tantos que cresceram como ele, com as mesmas referências.
Nada se resolve ficando na net, em chats, a delirar com o Dartacão, a MTV e o Casino Royal do Herman, parecem uns velhinhos, não de sessenta, mas de oitenta anos!

4 comentários:

Vasco M. Grilo disse...

Sofia, tem cuidado pois o "Generation Gap" de que falas e' mestre em atacar pelas costas, de mansinho e sem dar tempo a ajustes.....

Gonçalo Pistacchini Moita disse...

Minha cara Sofia, tem toda a razão. Motivou-me mesmo a escrever um post que há muito tenho agendado. A ver se à noite o consigo fazer. Até logo e obrigado.

Sofia Rocha disse...

Ao Vasco e ao Gonçalo,
Obrigada pelos comentários.
Prometo ter cuidado.

Anónimo disse...

nos anos 70 do séc.passado Alan
Jupé publicou um livro versando
sobre a descolonização.Jupé era na
altura secretário de Pompidou.Recomendo-o,se me for permitido.Porventura "Generacion
Gap" teria diferente conteúdo.