quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Da Visão: Esperança




Vivemos, é verdadeiramente redundante afirmá-lo, uma crise de confiança global. Em momentos como este, o valor da esperança é particularmente decisivo. Quaisquer que sejam as perspectivas que cada um de nós trace, quaisquer que sejam as receitas para vencer a crise que cada qual preconize, sem condições para gerar esperança não é possível iniciar o movimento de recuperação da confiança. Não é por acaso que alguns economistas depositam tanta fé no intangível «efeito Obama». Tendo a crise uma base largamente intangível (a confiança), o caminho para a recuperação pede soluções que, na sua verdadeira essência, são elas próprias intangíveis (a esperança).
Portugal vive, deste ponto de vista, um momento duplamente difícil. Por um lado não tem obviamente autonomia para resolver, sozinho, a crise global. Mas o país não tem simultaneamente as melhores condições para gerar ondas de grande esperança. E não me refiro às particularidades da nossa economia (outros haverá, mais habilitados do que eu, para discorrer sobre elas). Refiro-me ao actual momento político: diga-se o que se disser, a verdade é que Portugal não conseguiu gerar uma alternativa credível ao governo do Eng.º. Sócrates. E sem a esperança (ainda que eventualmente exacerbada) no efeito de uma mudança de actores e de políticas, sobram, de facto, menos razões para acreditar no restabelecimento da confiança.
Não reclamo, não espero, o súbito aparecimento de um Obama português. Muito menos uma qualquer solução aventureira ou messiânica. Mas desejaria, confesso, que o PSD se apresentasse, a bem do país e da economia, como uma verdadeira alternativa geradora de esperança. Acontece que o PSD está ferido de vários «pecados». Desde logo o seu grande «pecado original»: não acredito, julgo que poucos acreditam, que Manuela Ferreira Leite, com todas as suas qualidades, represente muito mais do que uma solução transitória para vencer a crise de desgoverno em que o partido ainda recentemente mergulhou. Depois porque o PSD, longe de propor alternativas verdadeiramente sustentadas às políticas do actual executivo, tem-se largamente limitado a cavalgar de forma oportunista ondas de insatisfação ou de pânico irracional que, ocasionalmente, foram rebentando na sociedade portuguesa (estou a pensar, por exemplo, na «onda de violência» do Verão passado e na crise da avaliação dos professores). Finalmente, porque o PSD tem sido incapaz de revelar uma indispensável coesão e consistência entre o seu discurso oficial e a as poucas decisões concretas que foi tomando. Deste ponto de vista, o processo de selecção dos candidatos às eleições autárquicas que se vão conhecendo não pode ser mais revelador.
Seria irresponsável e muito pouco independente defender que a solução para a crise que o país atravessa passa necessariamente pelo PSD. Mas julgo que é pacífico afirmar que Portugal só teria a beneficiar com a existência de verdadeiras alternativas políticas em confronto sem as quais é impossível criar razões para alguma esperança que possa ser o sustentáculo da recuperação da confiança. Para que isso aconteça o PSD precisa de redimir todos e cada um destes seus pecados.

6 comentários:

Sofia Rocha disse...

Em primeiro lugar, ainda bem que volta ao nosso convívio!
Depois:
Sou partidária da esperança.
A seguir: sou partidária desta liderança do PSD.
O exercício da oposição em Portugal é particularmente difícil.
As lideranças trabalham-se, constroem-se. Necessitam de tempo e de trabalho.
Não nascem de geração espontânea nem são inequívocas. Quando Sócrates foi Secretário de Estado alguém disse que estava ali o futuro PM de Portugal? Alguém disse que era um mestre em comunicação? Obama não trabalhou vários anos para esta campanha e mesmo assim não teve de disputar as primárias de forma renhida com H. Clinton?

O poder fascina e empresta brilho. É como uma mulher quando usa diamantes, sobressai, parece outra.
Mas convém não ficarmos ofuscados, são só umas pedras.
Valiosas é certo, mas só umas pedras.

Táxi Pluvioso disse...

Um filme extraordinário sobre a questão palestiniana. Não é nada de novo para quem estiver mais mais atento e souber História para além do liceu.

Manuel S. Fonseca disse...

Tens razão Taxi, o filme é extraordinário. O velhinho MRPP orgulhar-se-ia da coisa e nem precisava de ir à escola.

Anónimo disse...

Gostei muito deste texto.
Esperança é virtude.
É nos momentos de angustia, de incerteza, de fraqueza, que nos vale.
Também é dela que se alimenta a Alegria com que se vive o presente e constroi o futuro (material ou espiritualmente).
Talvez, nestes tempos obscuros, a Esperança nos ilumine e ajude a ver onde temos andado a entristecer.
Sem essa visão, realmente, não há perspectivas risonhas - com ou sem "PSD"s.

João Wemans

Anónimo disse...

Confesso que não percebo como se considera o Eng. Sócrates como uma alternativa credível. Aliás como qualquer dos últimos Governos que lá estiveram.

lucklucky

Luis Melo disse...

No pouco tempo que teve de entrevista, e falando apenas dos assuntos que lhe foram postos pela jornalista, Manuela Ferreira Leite esteve igual a si própria e mostrou ao país em quem deverá votar se não quiser piorar esta situação de crise, votar na alternativa credível do PSD.

Sobre o cenário politico-partidário:
"aquilo que temos dito nestes últimos 7 meses é o que se tem vindo a verificar" [...] "o debate político é completamente diferente agora, do que era há 7 meses atrás" [...] "a oposição do PSD não se baseia em tricas políticas, mas em questões importantes"

Sobre a crise economico-financeira:
"eu sempre defendi - desde que fui Ministra das Finanças - que, se houvesse alguma folga orçamental, essa folga deveria ser utilizada para baixar impostos e não para aumentar a despeza" [...] "aumentando a despeza, hipoteca-se no futuro uma possível baixa de impostos"

"o emprego está nas PME, é preciso ajudá-las, mas não da forma como o governo está a fazer" [...] "não se ajuda alguém que está endividado, fazendo com que se endivide mais"

Sobre as grandes obras públicas:
"Se eu fosse primeira-ministra abandonava de imediato o projecto do TGV" [...] "só é viável de houvesse um avião para Madrid, de 7 em 7 minutos" [...] "essa obra não vai utilizar recursos portugueses, vai importar-se tudo"

Sobre as eleições autárquicas:
"Pedro Santana Lopes tem crédito para ser presidente de câmara" [...] "tem obra feita como presidente de câmara" [...] "ser presidente de câmara ou primeiro-ministro é completamente diferente" [...] "fui eu, como presidente da distrital de Lisboa, que escolhi Santana Lopes em 2005"

"Gonçalo Amaral não cumpre as regras definidas pelo PSD para ser candidato a uma autarquia e nesse sentido a sua candidatura não pode ser aceite"

Sobre o calendário eleitoral:
"O Engº José Sócrates quer maioria absoluta, mas ao mesmo tempo quer antecipar eleições. Não se percebe se quer então estabilidade ou instabilidade"