domingo, 5 de outubro de 2008

Portugal e os Portugueses vistos de fora


Há uns anos atrás, um encarte (pago) na TIME apresentava a nossa vizinha Espanha como sendo a Western Europe’s last frontier. O título era obviamente enganoso. Num ápice peguei na caneta (ao tempo não havia email, pelo menos pelas minhas bandas) e escrevi para a Direcção da revista lembrando que Portugal, esse sim, encarte pago ou não pago, representava a última fronteira da Europa a Ocidente. Não recebi qualquer resposta, nem vi a minha missiva publicada nas Letters to the Editor. Nada que fosse inesperado.

A verdade é que, desde sempre, procurei prestar atenção à forma como Portugal é representado - ou apresentado - pela imprensa internacional e, na maior parte dos casos, com tristeza.

Vem isto (também) a propósito de um dos últimos números da TIME (a mesma que, se bem me lembro, pôs na capa as Mulheres de Bragança…) dedicado aos Heróis do Ambiente. Procurei, procurei e, mais uma vez (what else is new?), nem um “tuga” para amostra.

Há tempos, na já clássica lista (da mesma publicação) das 100 pessoas mais influentes do mundo, a mesma coisa. Nem um. Na política, o Presidente da Comissão Europeia não era considerado e, no desporto, nem Ronaldo, nem Mourinho, contavam pró Totobola da TIME.

Tenho para mim, como sempre tive, que isto se deve mais a nós do que aos outros. Que a culpa da pouca projecção das nossas gentes passa pela forma pequena como nos vemos e retratamos, pela pouca fé que temos em nós próprios, pela falta de um orgulho nacional que, atenta a história de Portugal, não deveria existir.

Continuo a acreditar que a história não tem que representar apenas a linhagem a que recorrem aristocratas falidos quando se fala da riqueza dos outros.

É mais do que isso, muito mais. Foi da história que nascemos, mas fomos nós que a fizemos (e continuamos a fazer). E devemos levá-la com orgulho.

Acredito que tudo passa por uma afirmação internacional, perfeitamente possível, apesar da nossa inserção num mundo com intervenientes reconhecidamente maiores e mais poderosos.

Uma afirmação que não se faz com pedidos de favores, nem com uma postura de menino pequeno. Faz-se com coragem e com sacrifícios; faz-se com um “chegar-se à frente” quando outros se chegam para atrás; mas faz-se também pelo ensino do que é a nossa cultura e a nossa história; com a promoção daqueles que são os nossos heróis.

E aqui também os media nacionais têm um importantíssimo papel.

No dia em que se assinalam 865 anos sobre a independência de Portugal (celebrada em Zamora a 5 de Outubro de 1143) valia a pena pensar nisto.

Breve nota final: curiosamente, enquanto pensava nisto tudo, peguei numa Tatler (ao acaso) e, num encarte dedicado aos 101 melhores Spas do mundo, lá estavam o do Reid’s (na Madeira) e o do Vila Joya (no Algrave). Nem tudo está perdido (a não ser que a referência tenha sido paga…).








4 comentários:

Sofia Rocha disse...

JP, e ainda bem que não nos vêem de dentro!
Agora a sério, há pouco tempo vi uma entrevista do Sérgio Figueiredo a um Professor/consultor português de marketing há trinta anos fora do país, e de que agora não consigo lembrar o nome, que me impressionou.
Concretamente sobre a forma de promover o país, ele dizia que nos cento e tal países do mundo, noventa, têm sol, não adiantava ir por aí...
Dizia que aquilo que diferencia o nosso país é a nossa cultura e o facto de sendo tão pequenos, termos uma diversidade geográfica e cultural tão grande.
Já agora, se me permite gostava de sugerir uma leitura sobre coisas boas de Portugal, o livro de Carlos Coelho sobre o assunto. Uma selecção das nossas melhores coisas.

JP Guimarães disse...

Sofia, também há pouco tempo circulava um email com uma apresentação sobre o que fazemos de melhor. E o que fazemos de melhor é muito bom. O problema é que é pouco conhecido e menos publicitado. Cá e lá.

Vasco M. Grilo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vasco M. Grilo disse...

JP, pegando no ca' do seu ca' e la', penso que tudo deva começar por centrarmos a nossa atençao em sermos colectivamente mais optimistas, positivos e acima de tudo informados acerca daquilo que e' a nossa Cultura. Talvez se vivermos menos preocupados com o que se diz la' fora de nos mas com o que dizemos de nos mesmos ca' dentro, alguem la' fora repare.....

Um aparte. No outro dia, num jantar aqui em Milao alguem me perguntou porque e' que se comia tao mal em Portugal. Nao soube que responder. Lancei-lhe o convite de vir comer um Bacalhau à Braz a minha casa. Somos poucos e por isso, todos embaixadores....