Sou só eu?
Sou só eu que decidiu comprar uma casa? Sou só eu que tive a mediação de uma imobiliária? Sou só eu que pagou IMT e IMI? Sou só eu que decidiu fazer obras de remodelação no apartamento? Que contactou, pediu orçamentos e contratou pedreiros, canalizadores, estucadores, pintores, electricistas, carpinteiros, pessoas singulares, colectivas, biscateiros, prestadores de serviços e empreiteiros? Sou só eu que tive de fazer uma mudança? Só eu mandei fazer limpezas?
Devo ser.
Porque sendo só eu a comprar uma casa, fazendo nela obras, mandando-a limpar e mudando-me finalmente, poderei ter tido a noção que há uma grande área de actividade económica do país que foge ao fisco, pura e simplesmente não se colectando. É a glória da economia paralela, sustentada por todos aqueles que obrigatoriamente pagam impostos.
" - Qual o preço?"
" - É X,Sô Dôtôra."
" - Passa factura, recibo?"
" - Oh, SÔ Dôtôra,assim o preço é diferente..."
" - É diferente como?"
" - Atão, nesse caso é preciso fazer as contas..."
Agora entendo porque é que o mercado da habitação em Portugal está estagnado. É porque ninguém do Governo comprou casa nestes últimos anos. E já agora também não levou o carro à oficina.
7 comentários:
Pois é Sofia, mas quando o nosso Estado assume, em vários diplomas legais, que a reabilitação urbana é um desígnio nacional, e mantém para todo esse sector a taxa do IVA a 19, 20, 21 0u 22%, conforme o ano, está justamente a promover a fuga aos impostos.
Não concordo com ela. Não a fiz e não a faço. Mas quando o Estado não faz o que lhe compete, que é ordenar e gerir o espaço público, e define como sua prioridade aquela que é a tarefa dos particulares (e que estes justamente fariam se o Estado fizesse a sua parte e os deixasse fazer a deles) e depois taxa-os violentamente, não posso deixar de achar "normal" que se fuja a pagar esses impostos. Ao limite, tornaram-se injustos, e esta é uma das razões pelas quais, em Portugal, a fuga aos impostos é tolerada.
Gonçalo, o problema é que a situação é grave. Para além da violação gosseira de todos os princípios ( de legalidade, de igualdade dos cidadãos), por parte de um Estado que asssim age, coloca-se a questão da ruptura dos sistemas. Estas pessoas não pagam impostos, não contribuem para a segurança social, mas estão muitas vezes na linha da frente para receber subsídios e ajudas por parte desse mesmo Estado.
Sofia, não entendi. O que é que a leva a dizer que é a única pessoa neste país a ter detectado imoralidades e ilegalidades? Nãos erá um pouco pretencioso?
Não são imoralidades e ilegalidades avulsas, é a realidade de um país que vive numa economia informal paralela. Que enquanto persistir em fazê-lo, não tem possibilidade de concorrer com os outros países, que hipoteca o seu desenvolvimento, que não capta bom investimento estrangeiro e que afugenta muita gente qualificada. Não é pretensiosismo, é desgosto.
Sofia, o que eu queria dizer é que não é preciso chegar a uma fase da vida em que se tem necessidade de fazer obras em casa, para saber que há uma economia paralela em Portugal, e que nem sequer é a Sofia a primeira pessoa a encomendar trabalhos nessa actividade tão particular das obras em casa.
De resto, tem toda a razão no diagnóstico que faz.
O anónimo de há bocado que por acaso se chama Pedro
Pedro, há, pelo menos, duas formas de abordar estas questões. Uma, em texto que reza mais ou menos aasim: qualquer coisa,...desafio...global...perspectivas...implementar...
MAIS-VALIAS, etc e tal.
Não sei fazer disso ( ou sei,mas deixo-o para tese de mestrado) e há sempre quem o faça mais qualificadamente do que eu. Outra, que é apenas uma opinião mais particular e comezinha, que é a minha. Se por um acaso gostar da segunda, fique por aí.
Sofia, que é "opinião minha", já diria o La Palisse. De resto, quanto a isto: "a noção que há uma grande área de actividade económica do país que foge ao fisco, pura e simplesmente não se colectando", aprende-se logo em adolescente quando se vai comprar trapinhos à feira de Carcavelos ou a outra qualquer das milhares de feiras deste país, e não se pede factura. Eu só admirava a sua candura, that's all.
Pedro
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