sábado, 20 de setembro de 2008

Sou só eu?


Sou só eu que decidiu comprar uma casa? Sou só eu que tive a mediação de uma imobiliária? Sou só eu que pagou IMT e IMI? Sou só eu que decidiu fazer obras de remodelação no apartamento? Que contactou, pediu orçamentos e contratou pedreiros, canalizadores, estucadores, pintores, electricistas, carpinteiros, pessoas singulares, colectivas, biscateiros, prestadores de serviços e empreiteiros? Sou só eu que tive de fazer uma mudança? Só eu mandei fazer limpezas?

Devo ser.

Porque sendo só eu a comprar uma casa, fazendo nela obras, mandando-a limpar e mudando-me finalmente, poderei ter tido a noção que há uma grande área de actividade económica do país que foge ao fisco, pura e simplesmente não se colectando. É a glória da economia paralela, sustentada por todos aqueles que obrigatoriamente pagam impostos.

" - Qual o preço?"
" - É X,Sô Dôtôra."
" - Passa factura, recibo?"
" - Oh, SÔ Dôtôra,assim o preço é diferente..."
" - É diferente como?"
" - Atão, nesse caso é preciso fazer as contas..."

Agora entendo porque é que o mercado da habitação em Portugal está estagnado. É porque ninguém do Governo comprou casa nestes últimos anos. E já agora também não levou o carro à oficina.

7 comentários:

Gonçalo Pistacchini Moita disse...

Pois é Sofia, mas quando o nosso Estado assume, em vários diplomas legais, que a reabilitação urbana é um desígnio nacional, e mantém para todo esse sector a taxa do IVA a 19, 20, 21 0u 22%, conforme o ano, está justamente a promover a fuga aos impostos.
Não concordo com ela. Não a fiz e não a faço. Mas quando o Estado não faz o que lhe compete, que é ordenar e gerir o espaço público, e define como sua prioridade aquela que é a tarefa dos particulares (e que estes justamente fariam se o Estado fizesse a sua parte e os deixasse fazer a deles) e depois taxa-os violentamente, não posso deixar de achar "normal" que se fuja a pagar esses impostos. Ao limite, tornaram-se injustos, e esta é uma das razões pelas quais, em Portugal, a fuga aos impostos é tolerada.

Sofia Rocha disse...

Gonçalo, o problema é que a situação é grave. Para além da violação gosseira de todos os princípios ( de legalidade, de igualdade dos cidadãos), por parte de um Estado que asssim age, coloca-se a questão da ruptura dos sistemas. Estas pessoas não pagam impostos, não contribuem para a segurança social, mas estão muitas vezes na linha da frente para receber subsídios e ajudas por parte desse mesmo Estado.

Anónimo disse...

Sofia, não entendi. O que é que a leva a dizer que é a única pessoa neste país a ter detectado imoralidades e ilegalidades? Nãos erá um pouco pretencioso?

Sofia Rocha disse...

Não são imoralidades e ilegalidades avulsas, é a realidade de um país que vive numa economia informal paralela. Que enquanto persistir em fazê-lo, não tem possibilidade de concorrer com os outros países, que hipoteca o seu desenvolvimento, que não capta bom investimento estrangeiro e que afugenta muita gente qualificada. Não é pretensiosismo, é desgosto.

Anónimo disse...

Sofia, o que eu queria dizer é que não é preciso chegar a uma fase da vida em que se tem necessidade de fazer obras em casa, para saber que há uma economia paralela em Portugal, e que nem sequer é a Sofia a primeira pessoa a encomendar trabalhos nessa actividade tão particular das obras em casa.
De resto, tem toda a razão no diagnóstico que faz.

O anónimo de há bocado que por acaso se chama Pedro

Sofia Rocha disse...

Pedro, há, pelo menos, duas formas de abordar estas questões. Uma, em texto que reza mais ou menos aasim: qualquer coisa,...desafio...global...perspectivas...implementar...
MAIS-VALIAS, etc e tal.
Não sei fazer disso ( ou sei,mas deixo-o para tese de mestrado) e há sempre quem o faça mais qualificadamente do que eu. Outra, que é apenas uma opinião mais particular e comezinha, que é a minha. Se por um acaso gostar da segunda, fique por aí.

Anónimo disse...

Sofia, que é "opinião minha", já diria o La Palisse. De resto, quanto a isto: "a noção que há uma grande área de actividade económica do país que foge ao fisco, pura e simplesmente não se colectando", aprende-se logo em adolescente quando se vai comprar trapinhos à feira de Carcavelos ou a outra qualquer das milhares de feiras deste país, e não se pede factura. Eu só admirava a sua candura, that's all.

Pedro