O que tem o Presidente da TAP a ver com os dois sequestradores brasileiros?
Jornal da Noite na SIC. Longa entrevista com o Presidente da TAP sobre o futuro da empresa e do transporte aéreo. Entrevista interessante até à pergunta final que, no mínimo, qualificarei de infeliz: Sendo o senhor brasileiro que comentário lhe merece o sequestro do BES? O Presidente da TAP, provavelmente surpreendido com a mudança de tema, lá responde as banalidades necessárias e manifesta o seu choque com a acção dos seus compatriotas…
Questiono-me de como me teria sentido eu, ou qualquer outro português, se, encontrando-me nos EUA nessa altura, me tivessem pedido, a despropósito, para comentar a violação por quatro portugueses de uma Americana em Newark (que deu azo a um famoso filme com Jodie Foster). Ou, vivendo eu no Luxemburgo, se de cada vez que há um crime cometido por um português me viessem pedir para o comentar? É que implícito na pergunta está a ideia de que se trata de um tema relativo a comunidade brasileira e não apenas um crime cometido por dois brasileiros (diferente seria se a pergunta pedisse ao presidente da TAP, enquanto "representante" destacado da comunidade brasileira em Portugal, para comentar o impacto que algumas reacções públicas ao crime poderiam ter na relação entre as comunidades brasileira e portuguesa ou até se a pergunta fosse precedida de dados indicando que uma percentagem desproporcional da criminalidade está associada aos imigrantes brasileiros o que as estatísticas, aliás, negam). No fundo a pergunta assume como legítima e natural a associação entre os dois criminosos brasileiros e os brasileiros. Como se os últimos tivessem de justificar ou explicar o comportamento dos primeiros. Que outra justificação existe para transformar um crime cometido por dois brasileiros numa pergunta à comunidade brasileira? Não creio que o jornalista tivesse más intenções mas é este tipo de associação irreflectida que conduz facilmente à xenofobia…
PS: No Público de hoje, Rui Tavares conta que no dia seguinte ao sequestro foi depositada uma coroa de flores que dizia "Em memória de Milton Sousa, morto neste local por ser brasileiro". Escusado será dizer que tal frase é igualmente xenófoba. Nada indica que o comportamento da policia seria diferente se se tratassem de portugueses.
Questiono-me de como me teria sentido eu, ou qualquer outro português, se, encontrando-me nos EUA nessa altura, me tivessem pedido, a despropósito, para comentar a violação por quatro portugueses de uma Americana em Newark (que deu azo a um famoso filme com Jodie Foster). Ou, vivendo eu no Luxemburgo, se de cada vez que há um crime cometido por um português me viessem pedir para o comentar? É que implícito na pergunta está a ideia de que se trata de um tema relativo a comunidade brasileira e não apenas um crime cometido por dois brasileiros (diferente seria se a pergunta pedisse ao presidente da TAP, enquanto "representante" destacado da comunidade brasileira em Portugal, para comentar o impacto que algumas reacções públicas ao crime poderiam ter na relação entre as comunidades brasileira e portuguesa ou até se a pergunta fosse precedida de dados indicando que uma percentagem desproporcional da criminalidade está associada aos imigrantes brasileiros o que as estatísticas, aliás, negam). No fundo a pergunta assume como legítima e natural a associação entre os dois criminosos brasileiros e os brasileiros. Como se os últimos tivessem de justificar ou explicar o comportamento dos primeiros. Que outra justificação existe para transformar um crime cometido por dois brasileiros numa pergunta à comunidade brasileira? Não creio que o jornalista tivesse más intenções mas é este tipo de associação irreflectida que conduz facilmente à xenofobia…
PS: No Público de hoje, Rui Tavares conta que no dia seguinte ao sequestro foi depositada uma coroa de flores que dizia "Em memória de Milton Sousa, morto neste local por ser brasileiro". Escusado será dizer que tal frase é igualmente xenófoba. Nada indica que o comportamento da policia seria diferente se se tratassem de portugueses.
2 comentários:
Miguel,
subscrevendo tudo, gostaria de acrescentar que:
1. há poucos anos (3?) um português, em Fortaleza, assassinou e enterrou 6 empresários, também portugueses, num caso sombrio de exportação da delinquência nacional;
2. tudo indica que tenderá a aumentar igual e sombria exportação criminal de talentos brasileiros aqui para a terrinha.
Não estou a moralizar. É uma observação lógica e prática.
se a pergunta fosse precedida de dados indicando que uma percentagem desproporcional da criminalidade está associada aos imigrantes de uma dada nacionalidade seria igualmente injustificável - a xenofobia também passa por esse tipo de perguntas: basta existir uma pessoa de uma dada comunidade que não seja criminosa para que tais perguntas sejam injustas
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