sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Intelectuais, sempre...



Um monde sans intellectuels du tout?
Non, je ne m’y résous pas.
Bernard-Henri Lévy, Éloge des intellectuels,
Grasset 1987, p. 61.


Aprendi com o meu Pai, há muitos anos, que a inteligência obriga. E antes de tudo o mais, explicou-me, obriga o ser inteligente a não ser estúpido. Será sempre, aliás, essa recusa da estupidez concreta, a única prova idónea da inteligência presente em cada homem ou mulher históricos.

Aprendi assim. E assim me fiquei.

Por isso, recuso a notícia da morte dos intelectuais. E por isso recuso a aparente tranquilidade com que a mesma é recebida.

O intelectual é penhor da inteligência e do pensamento no espaço público. Sem ele – e o masculino é neutro, por politicamente incorrecto que seja –, a vulgata sub-cultural da actualidade, sustentada num ofensivo abuso de simplificações e estereótipos, produz o caldo próprio ao império da opinião.

Como pano-de-fundo, servindo a grande ilusão, a religião das maiorias. Sempre presentes, sempre eficazes, a opinião, as maiorias e a opinião das maiorias, rumo à paz totalitária... Porque sem teoria, sem crítica, sem complexificação, o futuro será totalitário. Garantidamente totalitário, ainda que – e isso é mesmo o pior – possamos não dar por tal.

Entre sacerdotes, conselheiros, profetas, monges e giróvagos, não é verdade, Alexandre?

Post Scriptum – Serve este post, também, para dizer a um dos nossos intelectuais dilectos, o Manuel S. Fonseca, que há co-bloggers do Geração de 60 que não têm escrito, ao contrário do que provocatoriamente foi aventado, pela pura e simples razão de estarem cheios – e aqui o masculino neutro é, sobretudo, critério de elegância literária… – de trabalho!

3 comentários:

Manuel S. Fonseca disse...

Afinal, para além do Alexandre e deste vosso escriba mal amanhado, também cá temos o JP, a Sofia Rocha e a Sofia Galvão. Assim sendo, e com um tal quinteto de cordas não vão faltar posts. E o trabalho, Sofia, não é desculpa. Os posts na Geração de 60 são o cognac que torna o trabalho menos escravo e mais apetecível.

Sofia Rocha disse...

Sofia, não posso deixar de concordar.
Penso que chega a ser uma questão de desfasamento temporal. O intelectual recusa o tempo que é ditado pelos outros. Ao exigir outro tempo, coloca-se deliberadamente fora do contexto espacio-temporal.
É um asceta, porque o seu trabalho é de recusa, de negação do supérfluo.
Para a sociedade em que vive, arrisca-se a ser um marginal, por causa dessa carência.

Alexandre Brandão da Veiga disse...

Concordo com a tua ênfase Sofia, mas apenas com algum comentários de quem nunca foi intelectual, muito menos no sentido Voltaireano, francês:
a) Sem noção de serviço, um intelectual é apenas um menino mimado, apenas mais um elemento da massa e do espectáculo;
b) alguma noção de proporções ajuda a impedir o ridículo dos intelectuais. A boa frase do Goethe: "O Canal do Panamá é mais importante que toda a poesia do mundo".