Barack
Este post da Sofia fez-me voar no tempo. Back to the past. Fez-me lembrar que, noutro tempo, noutro lugar, já esperei por Barack.
Em 1975, em Luanda, tão jovem, tão comovido com a minha própria militância, sonhei que do nevoeiro, do cacimbo e do capim, surgiria um Barack.
Eu queria, eu sonhava. Por tudo, pela justiça que era devida a milhões de deserdados de mato e musseque, pelo exaltado e superior ideal que seria tirar da dúbia cartola de um conflito de classes e de raças o melhor e mais leibniziano dos mundos, eu esperava, eu tinha a certeza de que, negro e messiânico, encontraríamos, após longas horas de científico debate, ou de orgia de poder popular, um Barack redentor. Nunca, nunca chegou!
Eu queria, eu sonhava. Por tudo, pela justiça que era devida a milhões de deserdados de mato e musseque, pelo exaltado e superior ideal que seria tirar da dúbia cartola de um conflito de classes e de raças o melhor e mais leibniziano dos mundos, eu esperava, eu tinha a certeza de que, negro e messiânico, encontraríamos, após longas horas de científico debate, ou de orgia de poder popular, um Barack redentor. Nunca, nunca chegou!
Aos 10 anos de idade, numa aula do 1º ano de liceu, no Salvador Correia de Sá e Benevides, soube que John F. Kennedy tinha sido assassinado. Lembro-me, ainda me lembro, que, dois anos antes, o meu pai me levara a ver, do outro lado da rua, o consulado americano apedrejado dois dias antes por razões patrióticas. No dia em que anunciaram a sua morte, alguém me disse a palavra mágica. Não sei se foi “Change” a palavra passe, se foi “Liberdade” ou apenas “Democracia”, sei que bastou para perceber, no dia da sua morte, que para mim este Barack chegara cedo de mais. Morto, não me servia para nada.
Em 1968, muito mais morto, já sem poder chegar, deram-nos a ver o corpo humilhado e ofendido do padre Martin Luther King Jr. Chegou sem poder chegar, sonho de Barack que não tinha como ser sonhado.
Nem cedo, nem tarde, o único Barack que chegou mesmo, na improvável África do Sul de 1994, foi Nelson Mandela. Confesso: nem em sonhos o esperava. Não importa, esperavam-no muitos milhões. A mais milhões, milhões de outros, fez sonhar e fez renascer.
E logo agora que este Barack vai chegar, ando às voltas a perguntar-me: já não estou à espera ou já não consigo acreditar?
4 comentários:
Gostaria de experimentar essa sensação de desejar um chefe ou um deus.
Do Kennedy gosto. Fez uma boa guerra, o Vietname, maravilhosa, não importa que tenha mandado limpar o sebo à Marilyn, ou não.
Eis uma lista de fotos adulteradas que o Deus Google trouxe ao meu computador. Aqui. Nem o Abbey Road dos Beatles foi poupado.
Já que mais atrás o Manuel puxou, com brilho, pelo Sena, remeto(-me), numa espécie de ilustração aos dois últimos posts, a uma leiturazita do "Heptarquia do mundo ocidental". Para facilitar, página 34 da 1a. edição do "Peregrinatio...".
Isto post(o), vou agora limpar a casa.
da G.
Ó "Da G", bem vindo à blogosfera. Aviso-te já que não vais ter vida fácil. E escusas vir de fininho - e de Ferrari, ó julgas que não te topei o bólide - a exibir milionárias "primeiras edições" e a tentares dar-me baile com os espessos e opacos sete sonetos que perfazem a Heptarquia. Tal como o poeta, já sabes, eu cá estou, "Que em nada creio, nada espero, nem desespero de não ter que creia". Aguentas-te? kandandu meu kamba!
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