Identidades Emprestadas
Um colega meu dinamarquês contou-me ontem como o seu filho de dez anos chorou durante uma hora depois da derrota de Portugal com a Alemanha. Teve de o consolar e explicar-lhe que no futebol nem sempre ganha o melhor… Não foi totalmente eficaz pois a criança chorou de novo durante a noite. Domingo passado, no entanto, voltou a ser feliz pois a "sua" Espanha ganhou. Depois da saída de palco de Portugal procurou outra identidade e desta vez foi recompensado.
Reconheço que também eu fui à procura de outras identidades: primeiro foi a Turquia e depois a Espanha (nada de especial contra a Alemanha, apenas gosto de futebol…). Mas o que é interessante nisto tudo é a preferência que temos em assistir a um jogo como adeptos e não como meros espectadores. Confesso que é raro o jogo em que não sinta necessidade de tomar partido por uma das equipas. Posso começar neutral mas passado pouco tempo já sou mais um adepto. E como o meu clube (o Sporting) me dá poucas oportunidades de ganhar cada vez mais vou ter de ser adepto "por interposta pessoa" (frequentemente, dependendo de onde jogam os ex-ídolos do meu clube: no fundo, o Manchester United é a filial do Sporting para as competições europeias…).
1 comentários:
Caro Miguel,
realmente o processo de "adopção" pelos espectadores de um dos contendores numa qualquer competição parece ser um "fenómeno natural".
Apesar disso, como a ligação é mais ténue do que no vulgar clubismo ou nacionalismo, como a ligação pode surgir de um qualquer factor incluindo a beleza das jogadas, há cada vez mais espaço para o futebol como puro espectáculo.
Com a globalização mediática, por exemplo num Europeu de Futebol, das centenas de milhões de espectadores de cada jogo só umas escassas dezenas de milhões estão directamente interessados no resultado do jogo. Os restantes ligam a televisão para ver jogadas bonitas, os cavalheiros, e jogadores bonitos, as damas (perdoem-me o esquematismo).
Uma dica para o Manuel Pinho sem cobrança de honorários:
os nossos estádios, que muitos consideraram em número excessivo, devem ser a base de uma nova indústria do espectáculo; tal como hoje vêm a Portugal para jogar golfe hão-de vir a Portugal, no futuro, para ver e jogar futebol. As "academias" de formação de jogadores, com base nos alunos ilustres que formaram, devem converter-se em "universidades" de reputação mundial e tirar disso os adequados proveitos.
A nossa selecção deve passear-se pelo mundo, a peso de ouro, para dar prazer ao público e proporcionar às outras equipas a oportunidade, e a honra, de a vencer. As coberturas televisivas e o merchandising podem valer fortunas.
O prazer de uma bela jogada, uma finta à Ronaldo, as mudanças subtis de velocidade do Deco, os passes magistrais do Quaresma ou do Nani pertencem mais ao circo do que ao primarismo anglo-saxónico dos campeonatos.
No circo ganha-se alguma coisa ? Não ! é o puro prazer.
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