quarta-feira, 2 de julho de 2008

O meu menino é de oiro...


Seja pela recente nomeação de dois dos nossos bloggers para importantes cargos do PSD, seja para não fazer concorrência desleal ao Manuel S. Fonseca, seja por qualquer outra razão que eu desconheça, o facto é que ninguém até agora aqui quis comentar o lançamento da biografia de José Sócrates, que há dias apareceu sob o espantoso título: Sócrates: o menino de ouro do PS. Pois bem, faço-o eu.
Para começar, julgo que pouco importa, de um ponto de vista político, a presença de Dias Loureiro no lançamento deste livro, da qual tanto se tem querido falar, na tentativa de sugerir um eventual bloco central de interesses. A presença de Dias Loureiro, porém, só pode explicar-se a um nível pessoal e a ideia de um bloco central que unisse o PS de Sócrates e o PSD de Ferreira Leite não passa de desinformação. E essa é uma conclusão a que se pode chegar a partir da questão da oportunidade do lançamento deste livro: Creio, com efeito, que a eleição de Manuela Ferreira Leite como presidente do principal partido da oposição obrigou a uma redefinição da estratégia eleitoral do PS, a qual passa, agora, em primeiro lugar, por uma viragem à esquerda e, em segundo lugar, por uma pessoalização da campanha, da qual o lançamento deste livro é justamente o primeiro momento.
Na verdade, perante a insuficiência, primeiro, e a incerteza, depois, de que se revestiu, nos últimos tempos, a liderança e o futuro do PSD, a estratégia do PS manteve-se também incerta, indecisa entre a esquerda e a direita. Eleita Ferreira Leite, porém, imediatamente começou Sócrates a falar para a esquerda, tecendo dentro do PS duras críticas ao PCP e ao Bloco de Esquerda. E isto porque percebeu que, com Ferreira Leite à frente do PSD, ele já não pode, como até há pouco tempo podia, namorar o eleitorado ao centro, agora mais inclinado para o PSD. Virou, por isso, à esquerda, e a todo o vapor, pois que é aí que está agora toda a sua esperança. E é nessa altura, justamente, que sai este livro, cujo principal significado, portanto, é o do início da campanha eleitoral por parte do PS, para a qual Sócrates tem já uma estratégia muito claramente definida.
Sobre essa estratégia, aliás, muito nos diz também já este livro, nomeadamente que a campanha do PS não irá mostrar ao País a obra feita pelo seu Governo, indo-se antes centrar na figura do seu Secretário-Geral. Até porque a única coisa palpável que o Governo tem para mostrar ao País é a redução dos números do deficit serviçalmente exibidos a Bruxelas, o que, por um lado, não anima os portugueses face à crise e, por outro, não é mais do que a continuação da tão propalada política de rigor e de contenção que, no entanto, foi iniciada pela então ministra das finanças Manuela Ferreira Leite.
Sócrates, deste modo, que desde o início do seu mandato ferreamente tentou não cometer os erros do seu antecessor – não comentando ou pouco falando sobre os casos políticos e pessoais (e foram muitos) que surgiram durante o seu Governo –, agora, encurralado por Ferreira Leite, vê-se obrigado a pessoalizar a sua campanha, ainda que, sempre focado no exemplo de Santana Lopes, evite o mote do menino guerreiro e nos proponha uma canção de embalar:

«O meu menino é d'oiro
É d'oiro fino
Não façam caso
Que é pequenino
Não façam caso
Que é pequenino…»

A ver vamos, porém, quem ganha. Uma coisa, para já, é certa: as tarefas dos dois líderes estão clara e opostamente definidas: José Sócrates tem que entorpecer o PS e adormecer o País; Manuela Ferreira Leite tem que entusiamar o PSD e acordar Portugal.

8 comentários:

Convosco vou... disse...

Ainda se dão ao trabalho de continuar a falar/escrever sobre este menino? Sério? Este pequenino ditador que nem para isso se sabe assumir! Falta de saco...

Sofia Rocha disse...

Não se vê na foto, onde é que está o menino?

Manuel S. Fonseca disse...

Gonçalo,
Foi uma falha editorial imperdoável. A ver se ainda vou a tempo de publicar a biografia de Manuela Ferreira Leite. E de desafiar a Sofia (G) a escrever o prefácio.

Anónimo disse...

e tenho título a propor: a Dama de Platina

Sofia Rocha disse...

Tal livro diria assim: " No início, a escolha do melhor caminho. Empreende a marcha, dando passos curtos, mas seguros. Tem o ânimo e a resistência dos caminhantes. Sabe, que melhor do que olhar para trás, é olhar para frente, sempre se evita perder tempo e distância. Olha sempre em frente. A prudência avisa que a noite é fria, e o corpo necessita de descanso e sustento. Algumas horas antes da noite caír, já tratou de arranjar poiso para dormir. Faltam ainda muitos dias e noites até chegar ao sítio abençoado. Levanta-se à primeira hora da manhã. Manuela é como um peregrino. Vive com a certeza de que o caminho faz-se caminhando."

Manuel S. Fonseca disse...

Sofia, eu acho que temos livro...

Anónimo disse...

“Todavia, a firmeza que a todos nos espanta no contacto intenso e pessoal emanado não deixa esconder o sentido humano e sensível que extravasa como raios perscrutadores. A simbiose entre a firmeza concentrada nas condições e o humanismo preocupado com o ser transforma-se numa capacidade de liderança que, afinal, inspira confiança que alcança mesmo onde há menos esperança.”

Inez Dentinho disse...

Porque será que todos querem ser meninos?