terça-feira, 10 de junho de 2008

Portugal



Hoje, dia de Portugal.


Cresci em Peniche. Vivi, por razões profissionais, os últimos dois anos em Torres Novas. Pelo meio, já vivi em Lisboa, Porto e Funchal.



Hoje fomos visitar um familiar às Caldas da Raínha. Como sempre fazemos, passeámos pela Rua das Montras, passámos pela Praça da fruta e acabámos no jardim, naquele do lago, das termas e do pintor.


Junto do café onde dezenas de famílias liam o jornal na esplanada, onde passeavam as suas crianças à solta, andando de bicicleta ou correndo atrás dos pombos, vemos rebentar uma rixa violenta de toxidependentes, até que um, o mais exaltado e poderoso, à vista de toda a gente apavorada, saca de uma aparatosa navalha, perseguindo os restantes.



Hoje, dia de Portugal.


No regresso, a notícia de um morto ao pé de casa, nos confrontos que paralisam o país.


Não é um problema de segurança. Ou não é na essência. E quem o afirmar ou o usar em termos políticos, é demagógico e populista. É um problema de desenvolvimento e do desenvolvimento que não existe em Portugal.



As cidades de trinta mil habitantes não têm indústria, nem comércio, nem serviços, nem recursos humanos qualificados, nem investigação, nem desenvolvimento, nem emprego, nem vida cultural, nem universidades. São por isso as mais vulneráveis e as primeiras vítimas portanto.



Hoje, dia de Portugal.



Enquanto não se apostar definitivamente no desenvolvimento regional e na qualificação profissional dos seus habitantes, vamos continuar a assistir ao êxodo para os grandes dormitórios à volta de Lisboa, Grande Lisboa que segundo relatório da ONU, terá em 2015, 45% da população nacional.


Que Portugal é este hoje?





















2 comentários:

Anónimo disse...

então, nada de bocas sobre a porrada que a Manelinha daria aos camionistas? ou estrão a ficar murchas?

Manuel S. Fonseca disse...

Sofia, este é um Portugal de uma tristeza sem remissão. Pode ser que seja um pessoalíssimo estado de alma - logo eu que me tenho na conta de um optimista à beira da irresponsabilidade - mas comecei a sentir nestes dois últimos anos uma total incapacidade para olhar com bonomia e sentido de humor para este clinamen de sordidez e depressão. Os sinais de probreza à volta, os sinais de desesperança nas pessoas que caminham para o emprego ou que caminham por falta dele, o discurso àspero de quem tem pequenos negócios, cafés, livrarias, quiosques ou táxis, não enganam. Dead end, my dear. E, por favor, não nos atiremos ao José Sócrates. E não nos atiremos ao peso do Estado. Precisamos de diagnósticos mais corajosos, como precisamos de propostas bem mais efectivas. Haverá ainda algum ideal por que valha a pena lutar? Há alguma beleza no horizonte para que valha a pena levantar os olhos do chão? Há alguma discussão sobre modelos económicos que não se esgote no mais fácil e oligárquico dos lucros? Há alguma réstea de justiça que possa consolar os vencidos do sistema?