quarta-feira, 11 de junho de 2008

Hoje não estou para graças

Richard Salcido, Misery Loves Company
As notícias são más. A tensão social sobe mais depressa do que o mercúrio nos termómetros. Este é um Portugal de uma tristeza sem remissão.

Pode ser que seja um pessoalíssimo estado de alma - logo eu que me tenho na conta de um optimista à beira da irresponsabilidade - mas comecei a sentir nestes dois últimos anos uma total incapacidade para olhar com bonomia e sentido de humor para este clinamen de sordidez e depressão. Os sinais de pobreza à volta, os sinais de desesperança nas pessoas que caminham para o emprego ou que caminham sem sentido por falta dele, o discurso áspero de quem tem pequenos negócios, cafés, livrarias, quiosques ou táxis, não enganam. Dead end!

E, por favor, não nos atiremos ao José Sócrates. E não nos atiremos ao peso do Estado. Não chega e não explica quase nada. Precisamos de diagnósticos mais corajosos, como precisamos de propostas bem mais efectivas.

Haverá ainda algum ideal por que valha a pena lutar? Há alguma beleza no horizonte para que valha a pena levantar os olhos do chão? Há alguma discussão sobre modelos económicos que não se esgote no mais fácil e oligárquico dos lucros? Há alguma réstia de justiça que possa consolar os vencidos do sistema?
Começou por ser um comentário a este post da Sofia Rocha. Acabou aqui

1 comentários:

Sofia Rocha disse...

É justamente o clima de tensão social que me preocupa.
Quanto às políticas adoptadas nos últimos anos, preocupam-me muitissimo na medida em que não vejo que se coadunem com os interesses do país.
Não vejo que contribua para o desenvolvimento nacional o fecho de escolas e hospitais a eito, contribuindo para acabar de vez com qualquer pretensão de fixar populações no interior.
Nem manigâncias de otas e tgvs.
E porque mais que eu goste de Lisboa, e gosto, porque acabei de lá comprar casa, não posso concordar com os novos investimentos previstos, megalómanos e fora do contexto na crise em que vivemos e que acentuam de forma irresponsável a macrocefalia de Lisboa.
Quando eu era miúda, a minha avó fazia renda de bilros. Arte centenária, feita de paciência e destreza manual. Os bilros são, para quem não saiba, uns paus pequenos de madeira.Uma bola grandita de madeira de que sai um pauzinho fininho, a que se atam os fios que tecem a renda.
É isto que é Portugal hoje: um bilro!