Clarabela: uma carta de amor
Minha querida:
Confundir o teu nome é trocar o dia pela noite, sonhos por pesadelos, sorrisos por lágrimas, laços por espinhos, pele por granito, poemas por gritos, rosas por heras, pradarias de relva apetitosa pelo alcatrão das ruas. Não há no teu rosto uma marca de tristeza, desconsolo, ressentimento, só um bovino encanto de vida.
Preso nos olhos do amor que te escapa, das lembranças das nuvens leves, das cores suaves na infância que é só tua, nas tardes encostadas ao parapeito da janela, dos banhos com aroma a gargalhadas futuras, das saias rodadas, da alfazema nas gavetas altas, dos terraços perdidos no último arranha-céu da inocência, tu és o meu primeiro e último amor.
A infâmia e a vergonha são hoje maiores: a Anabela é o espinho, a corda no pescoço, o suspiro antes do longo vale dos monstros sempre acordados. Não pisei devagar, e pisei nos teus sonhos. Emigro o rosto para a mais distante das terras, fecho a casa, prego todas as portadas, deito fogo à madeira que nos agarrava à Terra, sinto a chama quente nas costas que vergo para nunca mais erguer, só na cegueira.
Perdi-te, perdi-me, perdi o mundo. Não há mais nada, só relógios quebrados, jornais rasgados, pássaros mudos, e o silêncio.
Onde está o teu riso? Em que armário, em que prateleira, em que biblioteca de amores perdidos?
O fim é claro, Clarabela. Não se muda o que não se pode trocar. É como trocar de alma, mesmo cansada, e essa não é minha.
É tua.
PS: A minha mulher, fiel confidente da pobre esquecida, não fala comigo desde o dia aziago. Como encarar cada novo sol? E quem olho quando olho agora para o espelho?
Só uma perguntinha: em que terra nasceu o mais lusitano dos compinchas de Tintin, Oliveira da Figueira?
Confundir o teu nome é trocar o dia pela noite, sonhos por pesadelos, sorrisos por lágrimas, laços por espinhos, pele por granito, poemas por gritos, rosas por heras, pradarias de relva apetitosa pelo alcatrão das ruas. Não há no teu rosto uma marca de tristeza, desconsolo, ressentimento, só um bovino encanto de vida.
Preso nos olhos do amor que te escapa, das lembranças das nuvens leves, das cores suaves na infância que é só tua, nas tardes encostadas ao parapeito da janela, dos banhos com aroma a gargalhadas futuras, das saias rodadas, da alfazema nas gavetas altas, dos terraços perdidos no último arranha-céu da inocência, tu és o meu primeiro e último amor.
A infâmia e a vergonha são hoje maiores: a Anabela é o espinho, a corda no pescoço, o suspiro antes do longo vale dos monstros sempre acordados. Não pisei devagar, e pisei nos teus sonhos. Emigro o rosto para a mais distante das terras, fecho a casa, prego todas as portadas, deito fogo à madeira que nos agarrava à Terra, sinto a chama quente nas costas que vergo para nunca mais erguer, só na cegueira.
Perdi-te, perdi-me, perdi o mundo. Não há mais nada, só relógios quebrados, jornais rasgados, pássaros mudos, e o silêncio.
Onde está o teu riso? Em que armário, em que prateleira, em que biblioteca de amores perdidos?
O fim é claro, Clarabela. Não se muda o que não se pode trocar. É como trocar de alma, mesmo cansada, e essa não é minha.
É tua.
PS: A minha mulher, fiel confidente da pobre esquecida, não fala comigo desde o dia aziago. Como encarar cada novo sol? E quem olho quando olho agora para o espelho?
Só uma perguntinha: em que terra nasceu o mais lusitano dos compinchas de Tintin, Oliveira da Figueira?
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