Sistema de ensino: rumo à infantilização crescente
Ao que parece o Conselho Nacional de Educação - com a bênção já há tempos anunciada do Ministério da Educação - vai propor a fusão do primeiro e do segundo ciclos do ensino básico. Medida cujo intuito será o de submeter as criancinhas dos seis aos doze anos ao regime maternal-paternal do professor único (ou melhor do professor tendencialmente único). Tudo isso com o superior propósito de evitar os traumas da transição de um sistema de um único docente para um sistema de vários docentes.
Em Portugal, continua-se no trilho da infantilização e desresponsabilização de crianças e jovens. Que trauma pode sofrer um ser humano de dez anos por passar de um regime de professor único para um de cinco ou seis professores (se forem dez, como se diz, serão, de facto, demais...)? E esse trauma não se agravará se vier a ser sofrido aos doze ou treze anos, altura em que tem de lidar com todas as mudanças da adolescência?
Aos dez anos, não haverá já maturidade psicológica para viver com a diversidade e a multiplicidade das relações e dos carismas humanos? Não será altura de as crianças saírem do casulo para o mundo multipolar da teia de relações? Não será benéfico conviver com diferentes perfis e métodos de ensino e aprendizagem? Não se ganhará com a competência especializada dps professores de cada área? E já agora que tem isto tudo a ver com a pobreza infantil, que foi, pelo menos, no anúncio dos media, associada a esta reforma visionária?
4 comentários:
Mais grave do que a questão do professor, parece-me ser o facto de passarem a conviver no mesmo espaço físico, crianças de 6 e 12 anos. Os mais novos, vão ser vítimas da circunstância de os mais velhos andarem a passar uma idade parva que toca a todos. Não me parece saudável. Quanto mais escalões separados melhor. Mas claro que tudo está à mercê da optimização dos recursos.
Sim, aos dez anos essa maturidade necessária está já, na maioria das situações, alcançada.
A cada ano que passa tornar-se-á mais complexo o tal processo de "saírem do casulo para o mundo multipolar da teia de relações", podendo prolongar-se, por vezes, até à idade adulta.
O sistema inglês tem, neste caso, uma solução de compromisso que me parece equilibrada.
Pese embora não conhecer o tema em profundidade, parece mais uma ramificação da tristemente célebre "Escola de afectos". Ou seja, à força de tanto querer transformar a escola numa coisa que ela não é, ou deva ser, i.é, a substituição da família, deixamos de ter escolas que ensinem e preparem para termos um híbrido que não é uma coisa nem outra - com os resultados que se conhecem. Dêem-se condições às famlías para criarem os seus filhos e deixe-se que a Escola cumpra a sua finalidade: ensinar.
juro que não entendo essa cena do trauma. eu tive uma boa professora na escola primária (como se chamava, no tempo em que a frequentei) e ao passar para o ciclo, o que me lembro de sentir foi entusiasmo com a diversidade. trauma? qual trauma?
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