domingo, 20 de abril de 2008

Sobre o PSD, para memória futura


Oxalá me engane, mas não tenho esperança. Nada de sério será possível. Nada de novo para além desta crise.

No início, cheguei a acreditar. A ano e meio de eleições, senti o ‘momentum’. E, ingénua, confiei na intuição desassombrada de alguém capaz de desafiar o destino. Setenta e duas horas depois, não tenho ilusões. O entusiasmo não passou de patetice minha. Candura tonta de quem se recusa a perceber o essencial.

A verdade é que os tempos não estão para grandes gestos ou para apelos de alma. Bem pelo contrário, os diversos movimentos são eminentemente lúdicos e assentam em cálculos minuciosos.

Nessa estrita lógica, tudo é politicamente vazio. Não está em causa o País ou, sequer, o partido. Nada de substantivo determina as contas feitas. Há um mero jogo de variáveis tácticas, dirigido à tomada do poder no tempo óptimo – isto é, sem custos pessoais, sem riscos, sem sobressaltos.

No fundo, a pretexto de uma pretensa racionalidade, faz-se análise em vez de política!

E, inevitavelmente, os portugueses percebem o óbvio. A ano e meio de eleições legislativas, o PSD considera a vitória impossível. Para os notáveis sociais-democratas, é absolutamente certo que o futuro líder será imolado num confronto antecipadamente perdido.

Por isso, aqueles poucos que poderiam protagonizar um projecto politicamente sério e promissor, capaz de mobilizar e de emular, preferem preservar-se para altura mais conveniente e segura. Aliás, acomodados como estão, é mesmo muito provável que só avancem quando três bruxos lhes asseverarem, a partir das estrelas, das folhas do chá e das cartas do ‘tarot’, que já não será necessário ganhar eleições por estar garantida a derrota do Partido Socialista.

Na base de tudo, estão umas continhas simples e bem feitas: em 2005, o PS teve 45,03% dos votos e conseguiu eleger 121 deputados, o PSD teve 28,77% dos votos, elegendo 75 deputados; de acordo com as mais recentes sondagens, a diferença entre os dois partidos mantém-se na ordem dos 13%. Pior, a esquerda (PCP e BE) sobe. E, por todas as razões, o CDS-PP não introduz qualquer argumento de facilidade nestas equações. A final, conclui-se friamente que, com pouca elasticidade para mais perdas à esquerda, a conquista do poder pressuporia o cenário improvável de o PS perder para o PSD ou, pelo menos, para a direita, mais de 25% do seu eleitorado de hoje... Ora, perante quadro tão negro, ninguém se atreve a enfrentar a máquina de propaganda do Governo e ninguém ousa acreditar na possibilidade da vitória.

As candidaturas de Pedro Passos Coelho, Mário Patinha Antão ou António Neto da Silva são penhor da referida abjuração. Como o seria, aliás, qualquer hipotética vaga de fundo em prol da direcção nacional demissionária. Ou mesmo a candidatura de nomes mais sonantes, mas com a mesma matricial implausibilidade eleitoral.
O pior é que tais aventuras não se esgotam na sua inconsequência prática. Pelo indigente espectáculo que prometem, poderão ser devastadoras para o futuro do PSD, da qualidade da democracia portuguesa e do nível a que se faz política em Portugal.

Mas, como dizia no início, oxalá me engane...

7 comentários:

Arrebenta disse...

Sobre o que está a acontecer no "As Vicentinas de Braganza", agradecia que nos visitassem, e se pronunciassem, caso vos interesse o nosso novo dilema/problema

http://asvicentinasdebraganza.blogspot.com/2008/04/nota-constitucional.html#links

Gonçalo Pistacchini Moita disse...

Sofia
Infelizmente não te enganas, pois não há razões de esperança. E sobretudo por isto: não há ideias. Os candidatos, portanto, melhor ou pior intencionados, melhor ou pior acompanhados, não vêm senão em nome deles próprios.
Ora, numa campanha eleitoral não surgem ideias - debatem-se ideias. Não as havendo, debater-se-ão pessoas, como fez, por exemplo, Marcelo Rebelo de Sousa, num comentário francamente aquém do que é costume. A fraqueza do comentário, porém, não se deve ao comentador, cujos méritos são reconhecidos, mas ao assunto, ou à falta de assunto, em que se tornou o PSD. E isto apesar de constantemente falado, debatido e comentado.
O que é preciso, do meu ponto de vista, fora de qualquer cálculo de poder urgente e precipitado - mas não, obviamente, de um modo absolutamente desligado do poder -, é fazer políticas a partir de ideias, projectando-as e construíndo-as dentro e fora do PSD. É esse o "momentum" de que falas. Esssas ideias, ao princípios, estarão sozinhas, apenas com os seus ideólogos. Mas acabarão por crescer. O poder virá depois. E será duradoiro, porque não se resumirá a esta ou àquela pessoa.
Ora, isto pode - e deve - ser feito por aqueles que, tendo-se provado competentes, querem governar (também) a partir de ideias, sendo que os valores que teimam em observar lhes não permitem qualquer participação efectiva na política partidária, nomeadamente na do PSD, exclusivamente dominada por outras lógicas. Aqui fica o desafio.

Anónimo disse...

Cara Sofia e Gonçalo,
Quanto apostam que se surgir um candidato(a) credivel, que ganhe as directas, em menos de um fósforo está o PSD óptimo, sério e cheio de ideias?

Gonçalo Pistacchini Moita disse...

Caro "agrandealface"
Três coisas a partir do teu pequeno comentário:
A primeira para notar o teu reconhecimento de que, neste momento, o PSD não está óptimo, não é sério e não tem ideias.
A segunda para notar que pões francamente a hipótese (é o que significa o teu "se") de não aparecer nenhum candidato credível, apesar de já se terem candidatado uns quantos.
A terceira para te dizer que, concordando com muito do que (me parece que) disseste, é importante reconhecer que, mesmo aparecendo alguém credível, o PSD certamente não será rapidamente reabilitado. Vai levar tempo, como sempre levam as coisas boas, sérias e com ideias.
Quanto ao mais, parabéns pela nova criança, que, ao que sei, se ri, sem nada saber destas coisas.
Um abraço

Anónimo disse...

Caro Gonçalo, o pSd não está óptimo, não está mal, está péssimo.
Candidatos crediveis, não só e apenas os sérios, até capazes e sem dúvida bem intencionados, por credibilidade e neste caso, socorro-me do JPP, aqueles que são reconhecidos pelos que votam no PSD, não apenas os militantes, como capazes de apresentar um programa e uma alternativa política ao país.
Neste sentido, não apareceu nenhum ainda.

Inez Dentinho disse...

As nossas angústias bipolares entre a esperança toda do momento e o desespero total no minuto seguinte não servem o mesmo PSD que se observa, sem empenho próprio.
Todos olhamos o horizonte, esperamos ver para além do nevoeiro. Não é possível que os melhores não sintam o apelo geral. Sócrates cumpriu essa expectativa no PS, à sua escala. Por maioria de razão, o futuro PM de Portugal o fará no PSD ou para o PSD.

Paulo disse...

Ferreira Leite....vai "tomar as redias" do PSD.