Política: cresçam e apareçam!
Este nosso mundo tem coisas horríveis. Ou, melhor, coisas que eu acho horríveis. Mas, se calhar, o problema é meu. Estarei irremediavelmente incapaz de me rever em certas manifestações do espírito do tempo.
Vem isto a propósito de bebés. Ou, mais exactamente, dos bebés convertidos em recurso de campanhas políticas.
Ao contrário do que adivinhariam os génios publicitários, não me enterneço... Nada! As criancinhas a balbuciar «Obama», a comer a papa por debaixo de ‘slogans’ ou levantadas em braços no meio de comícios de Clinton são imagens que, muito antes de qualquer ternura, me suscitam a mais viva náusea.
A política exige consciência. Conhecimento das discussões, vontade das opções. Ou seja, precisamente, o que as crianças não têm, nem devem ter.
Nas democracias, as crianças devem ser crianças. Crescer em liberdade. À medida do que a idade permita, aprender a vivenciar a política, sem condicionamentos: ouvindo, comparando, questionando, amadurecendo a percepção das escolhas e da responsabilidade (individual e colectiva) que lhes subjaz.
Utilizar crianças para a promoção de qualquer ideia política consubstancia uma despudorada manipulação. Própria dos estados totalitários, mas absolutamente intolerável em regimes democráticos.
Crianças de devoção bem ensaiada a Staline, Hitler, Mao ou Fidel são registos tristes na memória de todos nós. E assim devem ficar. Sem réplicas ‘soft’ em contextos ditos liberais.
Eu, que comi as primeiras papas no tempo da antiga senhora, sinto arrepios só de pensar que poderia ter ficado para a posteridade, de babette sujo e colher em riste, a pronunciar hesitantemente «Thomaz», «Thomaz»…
Por maioria de razão, 40 anos depois, conquistada a liberdade, espero que não importemos (acriticamente) mais esta lamentável moda. Defendamos os nossos bebés! Deixêmo-los crescer em sossego. Longe, o mais longe possível da política.
Vem isto a propósito de bebés. Ou, mais exactamente, dos bebés convertidos em recurso de campanhas políticas.
Ao contrário do que adivinhariam os génios publicitários, não me enterneço... Nada! As criancinhas a balbuciar «Obama», a comer a papa por debaixo de ‘slogans’ ou levantadas em braços no meio de comícios de Clinton são imagens que, muito antes de qualquer ternura, me suscitam a mais viva náusea.
A política exige consciência. Conhecimento das discussões, vontade das opções. Ou seja, precisamente, o que as crianças não têm, nem devem ter.
Nas democracias, as crianças devem ser crianças. Crescer em liberdade. À medida do que a idade permita, aprender a vivenciar a política, sem condicionamentos: ouvindo, comparando, questionando, amadurecendo a percepção das escolhas e da responsabilidade (individual e colectiva) que lhes subjaz.
Utilizar crianças para a promoção de qualquer ideia política consubstancia uma despudorada manipulação. Própria dos estados totalitários, mas absolutamente intolerável em regimes democráticos.
Crianças de devoção bem ensaiada a Staline, Hitler, Mao ou Fidel são registos tristes na memória de todos nós. E assim devem ficar. Sem réplicas ‘soft’ em contextos ditos liberais.
Eu, que comi as primeiras papas no tempo da antiga senhora, sinto arrepios só de pensar que poderia ter ficado para a posteridade, de babette sujo e colher em riste, a pronunciar hesitantemente «Thomaz», «Thomaz»…
Por maioria de razão, 40 anos depois, conquistada a liberdade, espero que não importemos (acriticamente) mais esta lamentável moda. Defendamos os nossos bebés! Deixêmo-los crescer em sossego. Longe, o mais longe possível da política.
4 comentários:
Sofia, percebo tão bem o que diz.
Tenho dois filhos que sempre foram cobiçados para campanhas publicitárias. Eu nuca acedi. Quando começaram a crescer transmiti-lhes exactamente que a única forma que concebo de crescer , é em liberdade.
Para tal devem não criar compromissos com interesses sejam eles de que natureza forem, muito menos quando são pagos para isso.
Quando adultos, participamos nos "circos " que entendemos. Mas por opção. Seguramente que uma criança ou um bébé não participam por opção ou por consciência e isso é à partida uma traição à liberdade que somos obrigados a "dar" aos nossos filhos.
Partilho as mesmas preocupações enunciadas pela Sofia e pela Helena como cidadã e como mãe. Todavia, se a questão aqui exposta ainda não ganhou por cá essa notoriedade, existem outras, banalizadas e recorrentes, que tenho observado com apreensão. Aqueles pais que empurram os filhos para as capas de revistas do social, para a tv, para a publicidade, querendo que os seus filhos sejam "actores", "actrizes", "modelos", "Ronaldos". Ao fazerem-no afastam-nos de uma boa formação académica, induzindo-os numa cultura de facilitismo e esquecendo-se que por cada caso bem sucedido existem milhares que não atingem o sucesso. Assim se dá cabo de uma geração.
Há neste post, latente, uma contradição. Por um lado diz-se que as crianças "devem ser crianças", por outro lado diz-se que elas devem "crescer livres". Ora bem, se elas são LIVRES, então não têm DEVERES. Ou seja, se elas são livres, então são mesmo livres de fazerem o que bem lhes apeteça, e não podem ser OBRIGADAS a ser crianças.
Se uma criança é LIVRE, então pode muito bem decidir ir ser figurante no Morangos Com Açúcar ou participar na campanha eleitoral de José Sócrates. Se tal lhe fôr PROIBIDO, e se a criança fôr em vez disso OBRIGADA a brincar com bonecas ou bolas, então não se pode dizer que a criança seja livre.
(Eu bem sei que o mundo está cheio de contradições e que é praticamente impossível evitá-las. Mas é bom, pelo menos, reconhecer que elas existem...)
Luís Lavoura
Sossegue Sofia Galvão porque dificilmente terá outra interpretação ao estilo do Luís Lavoura...
..."se são livres então não têm deveres"!!! e por aí fora, (mas muito contente por concluir que o mundo está cheio de contradições...)
Algumas cabeças são autenticos cestos de vime cheios de água.
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