quarta-feira, 23 de abril de 2008

Paisagens que contam histórias

Num comentário ao meu post sobre Dubrovnik o Manuel S: Fonseca reivindica para o cinema a capacidade de nos oferecer paisagens mais belas que a vida pode oferecer. Claro que eu, jurista que sou, já me tinha precavido limitando-me a dizer que se tratava de uma paisagem que o cinema não podia imitar (o que é diferente de superar…). No entanto, com o intuito claro que provocar o Manuel Fonseca a nos mostrar algumas dessas paisagens pensei em enviar uns exemplos de panorâmicas no cinema. Para mim o que diferencia a paisagem no cinema da paisagem "no buraco da muralha" é a associação narrativa. Eu Dubrovnik eu limitava-me a olhar. Estas paisagens que seguem contam-me uma história. No cinema a paisagem não é estética mas narrativa. Escolhi alguns dos meus openings shots panorâmicos favoritos que me vieram à cabeça, escolhidos pela capacidade que têm de nos oferecer toda a atmosfera do filme que se segue. Confesso que há dois (talvez os que mais gostaria de vos mostrar) que não consegui encontrar na net… A sequência inicial (penso que filmada em helicóptero) do Psycho (que nos transporta da cidade à intimidade) e um plano panorâmico em sentido contrário ao do olhar do Polanski (que, inconscientemente, nos coloca em tensão para o thriller que se segue). Mas os três exemplos que se seguem são bons se bem que, tenho a certeza, o Manuel é capaz de encontrar muitos e melhores exemplos (isto é um pedido!!).
Primeiro exemplo: Barry Lindon
O segundo exemplo é a panoramica sobre as ruas de Berlin num dos planos iniciais do filme de Wenders Os Anjos sobre Berlin.

O terceiro é Blade Runner:

5 comentários:

F. Penim Redondo disse...

WuvldCaro Miguel, vou meter uma colherada "à fotografo".

Penso que a principal diferença é que as paisagens do cinema são informação tratada. Tal como na fotografia o enquadramento, mesmo que não se faça mais nada, constitui um tratamento da informação que resulta numa forma de conhecimento produzida por quem capta.
Nesse sentido é narrativa e, em minha opinião, pode também ter valor estético, porque não ?

O olhar não enquadra e não trata, isso creio que é tarefa da mente.
A mente produz o seu próprio filme.

Quando o olhar incide sobre um filme está a recolher informação já tratada por outra mente.

O que é mais belo ? depende do realizador e do espectador, caso a caso.
O espectador pode ter feito mentalmente, num dado local, um filme mais belo do que um dado realizador.
Pagamos o bilhete para ver locais que nunca "filmámos" ou que queremos ver através de outra mente.

Manuel S. Fonseca disse...

Olá Miguel,
Resposta telegráfica: até 2ª vou ficar fora de combate, mas tenho muito gosto em aceitar o seu repto, mesmo que não acompanhe a sua certeza de que eu escolha "melhor". Mas tenho as minhas idiossincráticas escolhas. Da abertura do "The Searchers" do Ford, ao plano sequência com que Welles abre o "Touch of Evil". E há uma poética de alguns lugares que só existe porque o cinema a "inventou".
Agora, verdade, verdadinha, o meu comentário ao seu post de Drubovnik era inveja pura e dura. Um velho pecado mortal que hoje é só uma banal venialidade. Abraço

Anónimo disse...

As cenas inicias do leopardo de Visconti. Da terra e da casa cor de tijolo e terra até ao interior azul da capela onde se reza o terço em latim. ( E depois o filme todo).

Miguel Poiares Maduro disse...

Caro Fernando,
Point taken! É a "edição" do olhar mas essa também pode ser guiada pela estética. É uma estética "trabalhada" ou "construída" mas isso não é uma qualificação pejorativa bem pelo contrário.
Caros Manuel e Sofia,
Confesso que não conheço o plano do The Searchers do Ford (penso que nem sequer vi o filme) mas irei procurar. Quanto ao do Visconti vou reavivar a memória esta noite. Já o plano sequência inicial de Touch of Evil também faria parte da minha selecção (o Orson Wells era um mestre em planos desse tipo e em colocar-nos "in the right state of mind" nas primeiras cenas). Mas já que falaram de planos sequência, na minha opinião talvez o mais fantástico seja aquele em que todo o filme é um só plano sequência. E não me refiro à Corda do Hitchcook (penso que o primeiro a fazer isso embora tenha ouvido dizer que há uma ligeira interrupção: tiveram de mudar de bobine…) mas sim ao belíssimo Russian Ark de Sokurov (aconselho vivamente: o filme, é sobretudo uma declaração de amor ao Hermitage). E há vários exemplos esplêndidos do Antonioni e do grego Theo Angelopoulos (confesso que me recordo mais deste pelos planos sequência do que pelos filmes em si!). E o recente Atonment também tem um belo plano sequência (do meu ponto de vista não chega para fazer deste um grande filme e é um plano até algo pretensioso). And on and on…

Anónimo disse...

Estávamos a falar de paisagens: aos que nunca viram essa paisagem imaginária das imagens iniciais (e de todo o filme, de resto) do "Blade Runner" na escuridão do cinema, num grande ecran, não percam a oportunidade. Ontem voltei a ver essa paisagem e dei-me conta de como o cinema se perde nos DVD's vistos nos plasmas e televisões das nossas salas mais ou menos iluminadas! Quantos pormenores já esquecidos, apesar do entusiasmo do acompanhamento das diversas versões, e de que só tomamos consciência na sala escura...