quinta-feira, 3 de abril de 2008

Lopo de Bragança, 1921-2008

Comecei a contar o tempo, cheguei a 25 anos. Conheci-o talvez em 1983, o último verdadeiro aristocrata. Impecável atrás da sua boquilha e do seu sorriso afável. Parco de comentários acompanhava todas as conversas com inteligência e saber, que guardava para si. Poesia, sabia-a de cor e não aceitava dizê-la se pudesse enganar-se. Como no piano não aceitava uma inépcia ou uma alteração. Esteve perto de muitos, dos maiores, conheceu Backhaus e numa noite memorável, em privado, tocou com Rostropovitch, que uns anos mais tarde, num camarim do Coliseu, lhe abriu os braços abrindo alas e lhe gritou: “Lupo my pianist!”
Orlando Vitorino dedicou-lhe — “Tongatabú” — uma peça sobre o amor entre o homem e a mulher. Esteve sempre presente entre os da filosofia portuguesa.
Não perdia Paris no princípio de Junho, nem o Baleal em Agosto, nem as missas vespertinas no Corpo Santo, nem uma representação fosse qual fosse da Casa da Boneca de Ibsen. A vida aflorando os rituais, sempre feitos de uma invocação da felicidade que se encontra na repetição do que se espera, do que sempre se pode revelar de novo. Não falava de si. Sondava o mistério da arte que se percebe e não se explica, porque há nela sempre mais qualquer coisa que nos há-de escapar. Não o voltaremos a ouvir dizer:

Instante de jasmim
Conceito breve
Não pé
Mentira sois

... mas não sinto que o tenhamos perdido.

4 comentários:

Anónimo disse...

sabia-a decore?...e são estes os gajos que querem tomar o poder à bomba no psd...

João Luís Ferreira disse...

Agradeço ao anónimo recta pronúncia a identificação do erro. Podia ter esclarecido como escrever não sei se sabe. A educação, porém, não se vê só na detecção de erros gramaticais alheios, e o seu comentário, além de anónimo é pateta porque eu não tenho qualquer intenção de tomar à bomba ou de outra forma qualquer o PSD ou qualquer outro partido. Onde escrevi decore (foi auto corrigido e eu não reparei) leia-se de cor.

Anónimo disse...

Sabe se alugava barraca ou gostava de ir mais para além, para o lado da Almagreira, que é mais deserto e cheira a pedra e mar?

Miguel Freitas da Costa disse...

Li e gostei.Um abraço.