quarta-feira, 5 de março de 2008

Menezes, o Homem-Bomba

O líder da Oposição disse que o seu partido ainda não merece ser poder. Dificilmente um homem-bomba faria melhor.
O Governo apresenta sinais de desgaste. Enfrenta cada constestação até não poder mais para depois capitular e saltar a barricada para o sinal contrário, sem pruridos nem passado. Fala em reformas mas pratica a linguagem de ruptura dos novos regimes. Quando não vence, não cede. Muda de campo. Junta-se às hostes adversárias.
Assim foi com o Aeroporto, o traçado do TGV, a nova travessia do Tejo em Lisboa, os cortes no Ministério da Agricultura e o mapa das urgências. Quer provar que assim não é com os professores e convoca uma contra-manifestação para o Porto, à boa maneira do PREC de 75.
Mexe com os mais fracos: na fiscalidade dos deficientes, no ensino especial, na saga persecutória aos pequenos produtores de iguarias, e na mudança de regras nas poupanças dos remediados.
A grande reforma da Função Pública - que estava inteiramente ao alcance de tão determinada maioria absoluta - é uma miragem e o mérito dos contribuintes que pagaram o equilíbrio das Contas Públicas é capitalizado por um Primeiro Ministro que tem da economia a mesma sensibilidade que demonstrou pelo ordenamento do território na construção de casas medonhas no interior beirão que lhe merecia mais respeito.
Politicamente, podia dizer-se que uma nova geração chegou ao poder com um líder jovem e desportista; socialista e liberal; determinado e com capacidade de gerar obediências coordenadas.
Tudo isto é verdade salvo na questão da nova geração. O Primeiro Ministro é como sol do poeta que «em vez de criar, seca». Vitorino e Pedroso, as duas inteligências confirmadas na era Guterres, não estão presentes por diferentes razões. Silva Pereira é a voz sensata e internista que balança os ímpetos do chefe mas não lhe dá escala nem rumo. Parece que o Ministro da Justiça está a trabalhar bem, sem que se veja. Quero acreditar. A simpatia e tempero do MNE não chegam para uma posição clara quando toca a falar sobre o Kosovo ou para promover um regresso com consequências culturais e económicas em África. O homem da agricultura é a cair de malcriado e desinformado. O das Finanças cumpre com zêlo o seu papel. Tudo mais é massa anónima que vive na sombra iluminada de um líder sem alma.
O País clama por uma alternativa, dentro ou fora do PS, uma nesga de esperança que nos deixe aspirar a melhores dons. Rui Marques é filmado à porta do Tribunal Constitucional dizendo que trás a esperança organizada num partido com o mesmo nome. Já vimos como foi de fácil recuo a vaga voluntarista dos renovadores (1985-87) ou a que o próprio protagonizou no Lusitânia Expresso, ao largo de Timor. Ao centro, não beneficiará da radicalidade que confirmou o Bloco de Esquerda.
Neste quadro - a ser justo - dir-se-ia que seria fácil encontrar uma alternativa, multiplicar por (-1), liderar a oposição.
Não. Não estão prontos. Estão no palco a afinar vozes e cordas esquecendo que o pano já subiu e o público espera a performance. O partido de Menezes ainda não merece o poder. Talvez sim. Porque um partido que merece este líder, não merece o poder.

2 comentários:

Gonçalo Pistacchini Moita disse...

Ó Inês,
Do silêncio ao homem-bomba gosto sempre muito de a ler.
Beijinhos

Anónimo disse...

A nossa Inês, quando dá para sacar da pena, é que é uma autêntica "bomba"!
RAG