II. L'Empereur Fréderic II, Ernst Kantorowicz, Gallimard, 2000
Mas entremos no centro da questão que agora nos ocupa. Frederico II de Hohenstaufen.
O seu reinado mostra como todas a categorias usuais se partem perante o confronto com a realidade.
Para muitos um dos primeiros relativistas, cria um Estado totalitário. Lição a retirar: o relativismo convive bem com o totalitarismo. Para não dizer que o relativismo conduz sempre a uma de duas formas de tirania: a anarquia ou o totalitarismo. A razão de ser é simples; o relativismo destrói os limites.
Estado totalitário, mas comprimido pela religião cristã, dado de que não poderia abdicar. Também a União Soviética não poude apagar de vez o dado ortodoxo, por mais que o tivesse perseguido. Convivendo com o Islão, cuja cultura material lhe agradava, mas que nunca tentou implantar na Europa Frederico é o exemplo do soberano que se julga acima das leis da História, mas que no fundo apenas as consegue reactualizar. O seu êxito mede-se pela medida em que as conseguiu encarnar, agregando o espírito do tempo, renovando a aposta carolíngia e augusta.
Criador de uma das mais potentes máquinas de ideologia imperial da História, modelo já seguido por Augusto, por Carlos Magno e mais tarde por Napoleão, recruta intelectuais, juristas, artistas e poetas para celebrar em glória o seu reinado. Mas ao mesmo tempo é homem culto, que sabe apreciar a cultura. Autor de um livro sobre a falcoaria, é acima de tudo um aristocrata de hábitos guerreiros que ao mesmo tempo vive a vida e a cultura. Para muitos seria o típico príncipe da Renascença, caso pudéssemos dizer que a Renascença teve o monopólio desse tipo de príncipes.
A complexidade da personagem e da época não se podem sintetizar em duas linhas. Kantorowicz, dentro da medida do que é historicamente possível, reconstrói a sua infância livre e incerta no meio de uma mistura de povos e culturas. Crescendo sem família e sem poder, conhecendo a liberdade de movimentos que outros reis conquistadores fruíram antes e depois dele (como Henrique IV de França) é do retrato de um homem amante da liberdade que se trata. Mais da sua que da dos outros, e no entanto dotado de uma imensa grandeza. A ambição de alguns homens pode ser um perigo para os outros, mas é sempre um espectáculo e um regalo para o seu olhar. Stupor Mundi, lhe chamavam. E ainda hoje em dia nos consegue surpreender.
Alexandre Brandão da Veiga
http://www.livres-chapitre.com/-Q1HBT1/-KANTOROWICZ-ERNST/-OEUVRES---L
http://math.unipa.it/~grim/semiohistory.pdf
http://www.stupormundi.it/Franc/conclusion.htm
http://www.universalis.fr/corpus-encyclopedie/117/0/T900805/encyclopedie/KANTOROWICZ_E._H._.htm
http://www.editions-bayard.com/pages/fiche.php?isbn=2227473762&rub=Philosophie
http://www.comune.pisa.it/i.ghibellini/pierwinR.htm
http://www.hohenstaufen.org.uk/
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