Greenspan II
Greenspan disse nos últimos dias que esta seria a pior crise financeira internacional desde o fim da segunda Guerra Mundial. O que não disse é que ele pode eventualmente vir a ser considerado um dos responsáveis por isso. Esta conclusão era o corolário do longo post que há dias escrevi sobre o legado do antigo governador do Fed. Peço desculpa por voltar a esta vaca fria, mas tinha que guardar isto em algum lado e este parece um bom sítio.
Aquilo que de mais importante se pode dizer relativamente à acção de Greenspan é que ele contribuiu de uma forma decisiva para aumentar o grau de flexibilidade da politica económica e monetária norte-americana e, por essa via, aumentar o grau de flexibilidade dos mercados financeiros e da economia em geral. Por exemplo, ao tornar a politica monetária menos sensível ao andamento de determinados indicadores macroeconómicos, Greesnpan deu uma maior discricionariedade às intervenções do banco central, dando por isso mais espaço para que os mercados se ajustassem a alterações nas condições de oferta e de procura.
Ora, a contrapartida de uma economia mais flexível é que, sendo as condições favoráveis, ela cresce mais depressa. Todavia, em condições desfavoráveis, ela pode também reagir negativamente de uma forma mais acentuada.
Isto pode ser dito ainda de outra forma: a grande flexibilidade dos mercados financeiros imposta por Greenspan – e aceite pelo povo – permitiu um grande crescimento do crédito à actividade económica e ao investimento, a qual chegou às classes de menores rendimentos. Esse segmento de mercado necessitava de uma maior vigilância por parte das autoridades financeiras, a qual não foi feita porque o Fed não estava atento aos sinais de cautela do costume. Isso acabou mal, como se viu, e acabou por afectar o resto da economia norte-americana, começando pelos bancos, depois a bolsa e agora os restantes mercados. “No problem”, terá pensado Greenspan, “quando for preciso injectamos dinheiro e os mercados reequilibram”. Só que o efeito parece ter ficado fora de controle.
A projecção externa da crise norte-americana decorre simplesmente do peso que ela tem na economia mundial.
Punha-se a questão de saber porque é que a Europa fugia destas soluções de maior flexibilidade. Uma das razões faz seguramente jus ao facto de ser um velho continente, com populações mais estáveis socialmente, mais velhas e mais avessas ao risco.
Grau de certeza sobre o que ficou dito: 83%.
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