quinta-feira, 20 de março de 2008

Foge cão, que te fazem barão...

Este post começou por ser um comentário ao post do Pedro Norton – Da Visão: os barões atrapalhados –, que acabou por crescer e tornar-se autónomo.
Gosto sempre de ler o que diz o Pedro, sobretudo pela clareza com que expõe as suas posições, como mais uma vez é o caso. Quero, no entanto, discordar num ponto, que me parece essencial: é que não julgo que a guerra no PSD seja entre bases e barões, nem que, consequentemente, a solução esteja em Belém e em Cavaco Silva.
Explico: a guerra será sempre entre barões e barões, os quais valem justamente em função das bases que são capazes de motivar. O problema, hoje, excessivamente visível no PSD, mas, em rigor, patente em quase todos os Partidos, é a ausência de uma relação verdadeira entre os líderes e as “suas” bases.
Sempre que a relação entre os lideres e os liderados se torna num mero jogo de interesses, no qual uns manipulam os outros, em vez da salutar divergência interna (que muitos hipocritamente saúdam, sabendo que é outra coisa), temos a instauração de guerras cujos fins são alheios à própria natureza do Partido.
Na verdade, porém, os destinos de ambos - líderes e liderados, barões e bases - estão ligados: a ascenção e a queda de uns é a ascenção e a queda dos outros, muito para além da mera luta dos seus interesses particulares.
Sempre que os barões deixem de explicar-se às bases – informando-as, motivando-as, convencendo-as... – e sempre que as bases deixem de participar nas lideranças – perguntando, contestando, sugerindo... –, veremos inevitavelmente instalar-se um poder que tudo reduzirá a um mero jogo de interesses, que com o passar do tempo se tornará cada vez mais mesquinho. É certamente aí que estamos.
A solução, porém, não está em Cavaco Silva, que enquanto Presidente da República deverá ser obviamente alheio a essa luta prtidária, e enquanto líder social-democrata não creio que tenha feito – nem que venha a fazer – o que justamente é preciso fazer: abrir o Partido para fora.
A solução, com efeito, está na capacidade dos líderes se relacionarem verdadeiramente com as bases, motivando-as para participarem em tarefas transparentemente inscritas em projectos e claramente compreendidas em ideias. Para isso, porém, os líderes têm que ter projectos e ideias (não confundir com aparições nos telejornais) e as bases têm que ter autonomia (não confundir com uma mera capacidade de voto).
É claro que isto implica uma abertura dos Partidos para fora – coisa que os actuais barões e as suas bases não querem nem deixam que aconteça, em nome da defesa dos seus pequenos poderes. Mas a vida tem surpresas, como julgo que descobrirá quem seguir este caminho.

1 comentários:

Anónimo disse...

Caro Gonçalo,
Antes de mais obrigado pelo «piropo».
É bem verdade que qualquer líder precisa de bases. Mas também é verdade que, felizmente, nem todos fazem do «basismo» o seu único programa político. Continuo a achar, nesse sentido, que há uma diferença qualitativa importante entre esta «guerra» e as «guerras» mais tradicionais entre barões.
Quanto ao papel preponderante que Cavaco pode desempenhar, quero desfazer um equívoco. Não o defendo, nem me parece que seja saudável. Limito-me a dizer que acabará por desempenhá-lo.
Um abraço.