domingo, 10 de fevereiro de 2008

Onde Sócrates se Encontra com Cavaco

Se calhar Portugal precisa de uma fundação de capitais públicos para a Cultura. Uma espécie de Gulbenkian do Estado; ou uma Fundação para a Ciência e Tecnologia para a Cultura; ou uma Fundação Serralves nacional. Os britânicos têm isso, financiado pelos dinheiros das lotarias, e está, claro, sempre envolta em polémicas. Mas é autónoma e não envolve os governos directamente a não ser na altura de nomeação dos responsáveis (Como somos pobres, os dinheiros das lotarias por cá ainda vão para as misericórdias).

Fui ver o Museu Berardo, depois de muita resistência. Não posso comentar, pois não sou especialista. Mas posso dar umas impressões. Tem coisas boas, claro, e pelo menos uma sala que preenche razoavelmente a vista. É a sala grande lá de baixo. Mas a escala é pequena e aquilo parece um Portugal dos Pequeninos do MoMA de Nova Iorque. Mas é isso que temos. Há também quadros evidentemente importantes como dois ou três de Max Ernst. Tudo muito seguro e de seguro investimento. Será uma boa colecção de um banco.

Mas a colecção Berardo fica mal no CCB e mostra bem como o CCB foi mal concebido. Não percebo porque é que Berardo não gastou uma meia dúzia de milhões de euros para construir um edifício próprio de raiz, mais simples, melhor e mais bonito. O que lhe dava ainda mais projecção.

Na enorme dimensão do CCB há pouquíssimo espaço para exposição e isso torna-se agora mais evidente. A sala principal do primeiro piso tem talvez seis andares de altura e apenas quatro paredes para quadros. Depois, sobem-se umas escadas para umas salas quase esconsas, sem qualquer perspectiva.

As dimensões, pequena da colecção e exagerada do edifício, poderiam passar despercebidas se não soubéssemos quanto tudo aquilo custou.

O CCB foi mal concebido porque o “dono da obra”, precisamente, foi um ministro (ou um Primeiro ministro ou um secretário de Estado). Na construção de museus, isso todos sabem, é tão importante o arquitecto como quem encomenda, para que o projecto responda a determinadas especificidades. Os governos são maus para donos de obras culturais.

A colecção Berardo foi para o CCB por causa de pressões políticas. Uma fundação, mesmo pública, cederia menos facilmente a pressões políticas e teria obrigação de encomendar melhores edifícios. Ou não, não sei. Quem saiba que o diga.

1 comentários:

Miguel Poiares Maduro disse...

Caro Pedro,

Tens toda a razão no que concerne o CCB. Não é um museu e , na verdade, a parte de exposições não se sabe muito bem a que serve... No entanto, não sei se a razão é o Estado ser dono da obra (já vi muitas obras mal feitas com donos privados...). O problema é que nunca se soube bem para deveria servir o CCB. Se bem me recordo a sala de concertos acabou por ser alterada para poder ter ópera mas raramente isso acontece. Por outro lado é uma sala pouco maior que o São carlos ou a Gulbenkian e Lisboa continua a não ter uma grande sala de concertos. É no Coliseu (sem condições de conforto ou acústica) que continuam a ter lugar os concertos do ciclo das grandes orquestras. E é preciso recordar que, pouco depois, voltou a ser feito mas um teatro de características e capacidae similar (ligeiramente mais pequeno): o Teatro Camões para onde está remetida a CNB e pouco mais.
abraço
Miguel