sábado, 9 de fevereiro de 2008

Da Democracia Agora Vista Mesmo na América...

Em primeiro lugar, um obrigado ao Pedro (Lains) e à Sofia pelo "marketing" e um pedido de desculpas por ter estado ausente enquanto por aqui se mencionava o meu nome (não é que vos tenha provocado em vão…!).

Garanto que não me exilei nem entrei na clandestinidade depois da minha opinião no processo Kadi a que o Pedro e a Sofia fazem referência. Acontece que vim ver a Super-Tuesday ao vivo… Estou esta semana em Chicago a dar umas aulas e não prestei a atenção devida ao blog. Mas não resisto a comentar os posts do Pedro e da Sofia a partir dos EUA (não que faça muita diferença… mas dá um ar mais internacional – ou provinciano… - ao blog). O debate entre o Pedro (Norton) e a Sofia (com a contribuição bem relevante do Gonçalo) suscita uma das questões mais interessantes da política: a tensão entre política e politicas (ou entre comunicação e conteúdo). A política enquanto governação e arte de definir e escolher políticas é inerentemente complexa: exige análise, estudo e as decisões são frequentemente dificeis. A política enquanto mecanismo de comunicação com os eleitores tem de ser simples, breve e acessível: é feita de símbolos, imagens, slogans, frases. A gestão deste espaço entre a simplicidade que a política exige e a complexidade das políticas que ela vai determinar não é fácil. É aliás este espaço que permite o aparecimento do populismo ou (ainda pior) da demagogia. Como pode a política exprimir a complexidade das políticas sem perder o interesse do público ou como pode a política ser emocional, apelar às pessoas, sem se tornar demagógica ou populista (o receio da Sofia)? Como pode um político ser popular sem ser populista? Ser simples sem ser simplista? Ser emocional sem deixar de ser racional? O segredo está numa "falsificação" (simplificação) que é intelectualmente honesta. É um pouco como um mapa: um mapa não é a realidade que representa mas não deixa de ser verdade porque a escala que utiliza é cientificamente credível. Na política, a credibilidade da simplificação da realidade encontra-se na verdade da relação que podemos estabelecer entre a simbologia utilizada por um político e o seu conteúdo político (a suas propostas de políticas e a coerência da filosofia que as domina). Os "cientistas" que controlam grande parte desta credibilidade são os editores do espaço público (media, comentadores etc.). Há ou não correspondência entre a simbologia utilizada por um candidato e as suas propostas políticas. É a simbologia coerente com essas propostas e são essas propostas coerentes entre si? A simbologia de Obama é uma de inclusividade, mudança e transcendência. O que é necessário é ver se as suas políticas correspondem a isso e não necessariamente exigir-lhe que fale a linguagem dessas políticas em vez de uma linguagem que as represente.
Já agora, o grande objecto de discussão nos EUA neste momento é até que ponto a manutenção da incerteza quanto ao candidato democrático e o prolongamento da disputa eleitoral vai afectar a imagem dos democratas. Por um lado, porque pode provocar divisões internas. Por outro, porque é até bem possível que esta disputa se prolongue até à convenção e acabe então por ser decidida através de processos políticos partidários internos. È curioso que neste caso a exposição pública é vista como um problema para os políticos…

2 comentários:

F. Penim Redondo disse...

Também se pode pensar que o prolongamento da incerteza no campo dos democratas vai beneficiar o seu candidato.
Tudo dependerá da forma como os derrotados gerirem a sua subordinação ao vencedor.
Há uma "lei" qualquer da comunicação mediática que diz que o que conta é aparecer nos noticiários seja por que motivo for.

A vitória demasiado fácil do candidato republicano em vez de ser lida como sinal de superioridade pode ser lida como sinal de falta de dinâmica do seu partido.

Confesso que não sei muito bem como funciona o cérebro político-partidário dos americanos...

Miguel Poiares Maduro disse...

Caro fernando,

Foi exactamente a opiniao que eu exprimi num debate na Universidade. E a maior exposicao mediatica pode ser favoravel ao candidato democrata. Mas o consenso nos "pundits" americanos e que o partido democrata se vai consumir num conflito interno que se prolongara ate a convencao acabando por minar a figura do candidato vencedor... Veremos
abraco
Miguel
PS: perdoem o portugues mas isto e um computador de aeroporto...