A América de Peixoto
O sucesso de José Luis Peixoto é o nosso sucesso. Com contactos e contratos, uma passagem pela Bloomsbury, uma edição do gigante Random House, a temporada de 2008 em digressão pelos Estados Unidos, críticas internacionais muito favoráveis, publicação em mais de uma dezena de países, o início da carreira norte-americana de José Luis Peixoto deveria deixar todos os que escrevem, e todos os que gostam da palavra escrita, satisfeitos. O gosto pelos labirintos e cumplicidades específicas à prosa e poesia deste autor é, no momento, secundário - confesso, aliás, que conheço mal ambas. Mas alguém que dedicou metade de uma vida de 33 anos a lutar pelo que acredita - viver pela escrita e, mais difícil, viver dela - deve ser celebrado num país difícil onde o pesar mais comum é a dor de cotovelo.
Nada há mais distante de mim do que os piercings, as tatuagens, a santa despida por palavras numa língua remota - o finlandês -, a pátria literária de Faulkner macerada na pele. São os versos secretos e o rosto público do homem José Luis Peixoto, e ambos inspiram o respeito próprio a qualquer versejar secreto e a qualquer identidade pública. Mas há nos olhos dele um sentido de confiante optimismo, de esperança artística e humana, que deveria ser marca de água de qualquer criador. O facto de este ser português, e de se aventurar no grande mito ocidental contemporâneo - a América - põe-me orgulhoso. E, claro, com dor de cotovelo.
1 comentários:
Caro Pedro,
Concordo inteiramente. O José Luís Peixoto é uma das vozes mais originais que emergiram na nossa literatura nos últimos anos. Vale a pena celebrar a feito e desejar-lhe as maiores felicidades no mercado americano (e canadiano). Mesmo assim, vale a pena lembrar que a literatura portuguesa vai ter outro autor publicado por uma grande editora americana. Nomeadamente, um livro do José Rodrigues dos Santos vai ser publicado pela Harper Collins, que promete também dar bastante cobertura mediática à obra. Rodrigues dos Santos pode não ser José Luís Peixoto. Podemos até nem sequer gostar do seu piscar de olhos no fim do telejornal. Mesmo assim, é de louvar o feito de JRS ao seu publicado nos EUA por uma das grandes editoras. É, sem dúvida, uma outra boa notícia para a literatura portuguesa.
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