O filho de bin Laden
O meu apreço por Shakespeare está em quebra. Dia a dia, a cada abertura da bolsa dramatúrgica, Hamlet, Othelo, Rei Lear caem apunhalados por uma realidade imprevista e delirante. Contra as notícias do dia, contra esses jornais e telejornais que levemente espremidos jorram sangue, Shakespeare bem pode gritar: “Plágio!” Na melhor das hipóteses, admitimos que possa reclamar o direito a um sussurro agónico: “Também tu, Brutus, meu filho”.
O último golpe no velho mestre foi de adaga. Aqui, aqui ou aqui, um Mouro, outro intrépido e sereno Mouro, vem desafiar o terno amante de Desdémona. Omar Osama bin Laden, mouro sem ciúme, supera Othello, o “malignant and turbaned Turk” a quem Shakespeare deu alma nobre e furiosa.
O último golpe no velho mestre foi de adaga. Aqui, aqui ou aqui, um Mouro, outro intrépido e sereno Mouro, vem desafiar o terno amante de Desdémona. Omar Osama bin Laden, mouro sem ciúme, supera Othello, o “malignant and turbaned Turk” a quem Shakespeare deu alma nobre e furiosa.
Omar é filho de Osama, a nemesis do nosso tempo: o mal sem perdão, nem remissão. Simplificando, Omar Osama bin Laden é o terceiro filho de bin Laden e recusou a via do terrorismo que o pai defende, depois de 20 anos a viver com ele. Omar abandonou o pai, que o tinha treinado para matar, em 2000.
Saíu do Afeganistão e vive hoje entre o Cairo e Londes, casado com uma inglesa que o ajuda a procurar ideias para obter a paz mundial, estandarte que Omar opõe à Guerra Santa do pai. Omar apresenta-se ao mundo como o Embaixador da Paz entre o Ocidente e o Islão.
Para já, e para promover a tolerância entre “mouros e cristãos”, Omar propõe um raid hípico de cinco mil quilómetros por todo o Norte de África. Um Lisboa-Dakar a cavalo. Sem motores.
Para já, e para promover a tolerância entre “mouros e cristãos”, Omar propõe um raid hípico de cinco mil quilómetros por todo o Norte de África. Um Lisboa-Dakar a cavalo. Sem motores.
Terá o pai génio dramático para sair de cena com a grandiosidade e o toque estético que Shakespeare pôs na boca do homicida Othello: “Killing myself, to die upon a kiss”?
1 comentários:
Decidiu curtir o imenso carcanhol da família em vez de usá-lo contra os americanos. Mais um exemplo do generation gap.
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