domingo, 6 de janeiro de 2008

O dilema de Ulrich


Através dos jornais, consta que a CMVM analisa – à lupa (sic.) – o acordo de voto celebrado entre os accionistas que apoiam a lista de Santos Ferreira. A fazer fé nos mesmos jornais, tudo está em saber se o dito acordo se esgota na eleição dos corpos sociais do BCP para o próximo triénio ou se vai mais longe. Designadamente, se abrange a compra do controlo do BCP, ou a inviabilização da mudança de domínio, ou um exercício concertado de influência sobre o banco. Porque, se assim for, como é bom de ver, haverá imputação de direitos de voto equivalente ao somatório dos direitos de todos os subscritores, para os pretendidos efeitos.
É pois decisivo conhecer o alcance do referido acordo. Para percebermos as evoluções. E, desde logo, para que possamos antecipar os alinhamentos finais e, muito em particular, a posição a assumir pelo BPI.
Na verdade, se estiver em causa a mera eleição, não é de estranhar que Fernando Ulrich se mantenha fiel aos princípios assumidos desde que Paulo Teixeira Pinto lançou a OPA hostil e, em homenagem à coerência, venha ainda a apoiar a candidatura de Miguel Cadilhe. Mas se o acordo visar um novo equilíbrio de participações e poderes, é muito provável que Ulrich não possa escapar à lógica desses rearranjos e, pragmaticamente, ceda à inevitabilidade de Santos Ferreira.
Com 8% dos votos, o dilema está longe de ser irrelevante. Para bom entendedor, Fernando Ulrich já remeteu a decisão final para os seus accionistas.

2 comentários:

Manuel S. Fonseca disse...

Sofia, se bem entendo, terá talvez sido extemporânea a ideia de que este processo do BCP, e as soluções que surgiram, alguma vez tenham escapado do controlo dos accionistas. O que não quer dizer que os accionistas não tenham, para chapéu de chuva, ou para terno descanso de guerreiro, procurado o ombro amigo do Estado.

Sofia Galvão disse...

Manel, o controlo final dos accionistas sempre seria inescapável, pela própria natureza das coisas. O ponto é que esse controlo se traduz na opção entre alternativas e, aí, ou se está com o Governo ou não se está.
Post Scriptum - aliás, percebeu-se já depois das nossas anteriores conversas, que accionistas relevantes contraíram empréstimos vultosos junto da CGD para a compra de acções do banco cuja liderança agora se discute, pelo que a alternativa desses é, ainda, a de votar com o credor ou contra ele. E, de novo, significativamente, um credor público (100% do Estado)...