domingo, 6 de janeiro de 2008

Graves problemas financeiros

1. Hoje de manhã comprei o Público e deparei-me com uma notícia estranha sobre o valor das reservas em ouro do Banco de Portugal. Li com atenção o que vinha na primeira página e no interior e achei a notícia algo estranha. Depois fui ler outra vez a primeira página para perceber o que era a notícia propriamente dita e reparei que se tratava do envio de informação do Banco de Portugal para o FMI, em Novembro, sobre o valor das ditas reservas. Isto é notícia? Não se trata apenas do cumprimento de uma obrigação regular de um banco central de um pais membro daquele importante organismo internacional?

O Público pega nessa informação para nos dizer que há um debate internacional sobre o que os países devem fazer às reservas de ouro. Confesso que não conheço esse debate. Depois é-nos dito que em Portugal há quem tenha uma ideia sobre o que fazer e faz-se referência a Miguel Cadilhe que defende que parte do ouro seja vendido para que o governo financiasse o despedimento de funcionários. O centro da notícia parecia afinal ser essa ideia do ex-ministro das Finanças. Qual a razão disso? Não percebo.

Essa ideia, convém repetir aqui, é estranha quer do ponto de vista macro-económico, quer do ponto de vista político. As reservas de ouro dos bancos centrais servem para administrar os saldos da balança de pagamentos. Para além disso, elas são propriedade do Banco Central – ou do Estado – e não dos governos. Os governos não podem usar esse dinheiro. Acresce que as reservas têm um elevado valor porque o preço do ouro subiu e não porque o banco central tenha acumulado reservas em “excesso”. É por estas razões que, obviamente, os governos não podem dispor das mesmas reservas, como aliás também lembra a notícia em causa.


2. Devo confessar que estou muito preocupado com o que se está a passar com os bancos e o mercado financeiro. Ao princípio da solução da crise do BCP pareceu-me que estava a haver juízo e que a necessária intervenção do Banco de Portugal e do Governo estava a ser compreendida. Azar que quem está no governo é o PS e não o PSD, mas parecia-me que os do PSD estavam a recuar e deixar o governo governar. Mas não. Voltou tudo atrás com a intervenção de Cadilhe que apareceu como defensor do mercado e da iniciativa privada, e não como um protagonista do PSD, apoiado por interesses privados (legítimos, claro – sou daqueles que acha que deve haver interesses e que eles se devem manifestar) convergentes.

Eu não posso fazer um processo de intenções aos jornais e aos seus jornalistas, muitos deles de excelente qualidade. Mas tenho de confessar que me parece claro que o Público e o Expresso exageram ao apresentar Miguel Cadilhe como um arauto do mercado livre, esquecendo-se que ele defende também os interesses dos interesses que giram em torno do PSD. E não os interesses do “mercado”.

Se fosse o único a pensar assim, acharia que estava a ficar maluco. Mas não, felizmente Vasco Pulido Valente resolveu falar disto e, no mesmo Público, dá-nos uma lição do que se está a passar. Não posso estar mais de acordo.

Com esta enorme confusão, começo a pensar que é de facto melhor que o Estado saia da PT, da EDP, da GALP e da CGD, algo que economicamente não é necessariamente bom para o País, mas que se está a tornar crucial para clarificar as águas políticas. Mas atenção, gente do PSD: se isso acontecer, alguém do PS também terá de aceder aos cargos de topo. É que o PS já não é o partido dos sindicalistas barbudos e agora tem bons gestores. Não se trata de partilhas mas sim de se percebar que o poder pode também calhar a "gente de fora".

Seria excelente que os outros grandes analistas que ainda temos se deixassem de preocupar com os problemas de lana caprina e fizessem uns telefonemas, usando os seus excelentes contactos, para depois melhor no explicar o que se está verdadeiramente a passar.

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