segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Liberdade condicionada

As vastas restrições às liberdades que tanto apoquentam hoje as pessoas mais conscientes dos riscos inerentes ao controle estatal da vida dos cidadãos ainda não encontrou o destinatário das suas críticas nem o culpado das suas suspeitas. Como em todas as cadeias de comando cada elemento cumpre uma função para um resultado em que não é o único actor.

Por muito que nos apeteça identificar num governante a sede de controle e de limitação e condicionamento das liberdades individuais teremos de escavar mais fundo para perceber o fenómeno e, aí sim, mais do que com medo, ficarmos aterrorizados.
Vejamos o seguinte: quando um primeiro ministro reforça a vigilância do Estado sobre os cidadãos (e sobre as oposições) ele está a promover serviços e instrumentos que uma vez saindo do poder sabe que seráo entregues de bandeja aos seus opositores. Ora se tal acontece é por que haverá uma conivência e um acordo na classe política, que é quem verdadeiramente detém os poderes do Estado, para reforçar a tal vigilância. Ou seja, há um interesse comum da classe política nessa vigilância.
Verificamos, depois, não ser uma originalidade nacional. Acontece da mesma forma nos restantes países das nossas relações mais imediatas e tradicionais. Países com características semelhantes: democracias reduzidas a dois partidos hegemónicos, próximos do centro, com políticas tão semelhantes entre si que verdadeiramente se torna difícil distingui-las. A constante é, não este partido ou o outro que é quase seu gémeo, mas o conjunto da classe política que beneficiará desse controlo dos cidadãos. Uma classe política que, através de organizações poderosas que são os partidos políticos, ocupou a democracia e a usa a seu bel-prazer.
Os poderes nacionais são patrocinados pela família internacional. Basta ver as famílias políticas dos partidos da UE concentrados, também, num Bloco Central. A escala é internacional, porque é nesse plano que se jogam os verdadeiros poderes. A nossa classe política não é independente da classe política internacional. O poder verdadeiro é internacional e está nas classes políticas que nos governam ou de quem através delas governa.
António Barreto insurgiu-se e indignou-se ontem no Público com a versão local da limitação da liberdade de expressão e do reforço da vigilância pelo Estado. E bem. Não me parece é que seja um fenómeno meramente local.
Esta redução dos povos a massas e dos indivíduos a peões de fila, é a destruição da própria ideia de ideal. Decorre do facto da vida dos povos ser condicionada por uma classe política organicamente desligada das suas realidades e das suas identidades. Porém, mesmo no momento mais negro é nossa obrigação lembrar que a erva reverdeja entre os escombros das ruínas.

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