Jouissez Sans Entraves
A foto é de Cartier Bresson. Maio de 68. O post é uma vénia ao Manifesto de Sofia.
Um velho olha, perplexo, para um slogan utópico e inalcançável. Há quem diga que é um velho de direita, escandalizado. Talvez seja um pouco mais do que isso. O incrédulo estupor deste homem é o mesmo que Philip Larkin cantou sofregamente em “High Windows”:
When I see a couple of kids
And guess he's fucking her and she's
Taking pills or wearing a diaphragm,
I know this is paradise
Everyone old has dreamed of all their lives--
Bonds and gestures pushed to one side
Like an outdated combine harvester,
And everyone young going down the long slide
To happiness, endlessly. I wonder if
Anyone looked at me, forty years back,
And thought, That'll be the life;
No God any more, or sweating in the dark
About hell and that, or having to hide
What you think of the priest. He
And his lot will all go down the long slide
Like free bloody birds. And immediately
Rather than words comes the thought of high windows:
The sun-comprehending glass,
And beyond it, the deep blue air, that shows
Nothing, and is nowhere, and is endless.
Consola-me pensar que também o burguês da foto de Bresson rejeita a morte, imaginando “o fundo ar azul, que nada mostra, inefável, e sem fim”.
4 comentários:
Quem precisa de entraves e de interditos, na hora de ser feliz?!
Nem a Morte se interpõe quando o Gozo é Fundo, quando a Alegria é Plena, quando a Esperança extravasa a temporalidade.
Na Vida, quanto menos Laicizantes, mais holisticamente a viveremos.
Abraço
PALAVROSSAVRVS REX!
Excelente post!
No site dos “anarquistas”, que já guardei nos meus favoritos, as duas fotografias, esta que o Manuel diz ser de Cartier-Bresson e a outra, que ilustra tão bem o manifesto, estão lado a lado.
O Manuel prefere-a, e vem-lhe à memória Philip Lavkein, em “High Windows”.
Ao olhar para todas as fotografias da página- Mai 68:les murs ont la parole, eu escolheria a que ilustra o manifesto. Cartier-Bresson, o fotógrafo do “instante decisivo”, o fotógrafo que organizava nas suas fotografias o caos da realidade, o fotógrafo que ainda registava “o incrédulo estupor deste homem”, contrasta, é claro para mim, com “oser penser, oser parler, oser agir”.Foi preciso o abanão de 68 para que os fotógrafos franceses ousassem ver, e estou certa, que algures nesse muro também estaria escrito : OSER VOIR.
Manel, a vénia esmaga-me. Se a Madalena não tivesse dito tanto, eu ainda me abalançaria. Mas, assim sendo, remeto-me a um silêncio respeitoso. E rendido.
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