sábado, 26 de janeiro de 2008

He lost control


O fascínio das vidas interrompidas pelo desespero existencial, é contraditório com o excesso de criatividade com que as suas obras inundam e influenciam o mundo. A força libertadora quebra uma haste ainda frágil para tão grande empresa. E uma nuvem entristece o céu deixando o mundo cinzento e sem destino até aceitar o incompreensível.

A obra poética de Ian Curtis foi uma semente diferenciadora que fez florescer a Joy Division nos finais de 70. Não foram como os Sex Pistols, uma banda de contestação social, nem geracional. Não exprimiram uma revolta pela sua condição. O seu universo é poético e não político. Enquanto os Sex Pistols exprimiram, nesses anos, uma necessidade de afirmação na cena artística, os Joy Division simplesmente ocuparam-na pela força da sua sofisticação e pela profundidade das letras de Curtis, da música de Hook, Sumners e Morris e do som de Martin Hannett. A banda de Manchester, que a Factory de Tony Wilson desencantou, exprime duas ideias: a ideia de solenidade pelo valor absoluto dos momentos e a ideia de tempo, a sua irremediável sucessão, sem regresso, esgotando-se inapelavelmente. Cada sentimento é decantado de uma experiência quase mística e irrepetível. Cada sentimento é um combate à frivolidade.
Há um lado negro, uma negatividade existencial, no ambiente poético de Ian Curtis, afundado numa depressão que não o deixou sair do labirinto em que se foi enredando. Nele se espelhou um sentido trágico característico da juventude: uma urgência sem concessões. Tragédia que a morte destinou para uma manhã de Maio de 1980.
Poderemos talvez falar da tragédia de um desejo de absoluto ao qual se opunham formas de resistência que lhe impediam a expansão. O erro do seu casamento, a paternidade intempestiva, a doença, tudo isso lhe surgiu como formas de resistência à sua alma, inundada de uma luz, que não conseguia fazer despontar. Curtis não se desculpou com o mundo como tantos optam por fazer. Antes carregou nos ombros o peso da contradição em que se viu envolvido e não suportou a ideia de ter falhado a promessa de felicidade. Uma promessa que se falhe são todos os sonhos que se desfazem. No absoluto não cabe o facilitismo do relativo. Pelo menos na alma de Ian Curtis.



Twenty-Four Hours (1980)

So this is permanence, love’s shattered pride,
What once was innoncence, turned on its side.
A cloud hangs over me, marks every move,
Deep in the memory, of what once was love.

Oh how I realised how I wanted time,
Put into perspective, tried so hard to find,
Just for one moment, thought I’d found my way.
Destiny unfolded, I watched it slip away.

Excessive flashpoints, beyond all reach,
Solitary demands for all I’d like to keep.
Let’s take a ride out, see what we can find,
A valueless collection of hopes and past desires.

I never realised the lenghts I’d have to go,
All the darkest corners of a sense I didn’t know.
Just for one moment, I heard somebody call,
Loocked behind the day in hand, there’s nothing there at all.

Now that I’ve realised how it’s all gone wrong,
Gotta find some therapy, this treatment takes to long.
Deep in the heart of where sympathy held sway,
Gotta find my destiny, before it gets to late.

2 comentários:

Manuel S. Fonseca disse...

Cito o João:"O seu universo é poético e não político."
Não é uma frase, é um programa. De vida!

Anónimo disse...

Belos versos - de facto, é pungente a necessidade insatisfeita de realização - na falta do encontro entre os anseios da alma e a vida "de carne e osso".