Planificação Socialista de Estado
Deixem-me começar por um preâmbulo extremamente necessário. Nada me move contra a CIP e o seu Presidente. Aliás, penso que o Eng. Vanzeller tem feito um trabalho importantíssimo no diálogo com o Governo e os sindicatos, mostrando um sentido de equilíbrio. Mais: ele tem uma pose anti-reacionária que contribuirá seguramente para que os sindicatos abandonem a prazo a pose revolucionária que ainda utilzam.
Todavia, penso que a CIP tomou uma medida menos pensada ao liderar a encomenda de um estudo na busca de alternativas para o aeroporto da Ota. Talvez a minha opinião fosse outra caso a encomenda tivesse sido feita no segredo dos gabinetes, aliviando a pressão da opinião pública sobre uma decisão que não pode ser obviamente tomada pelo “povo”.
Também nada me move contra o responsável do estudo que veio a ser feito, o Professor José Manuel Viegas, que tem uma reputação extraordinária, que muito honra a nossa classe.
Feito este preâmbulo, passemos ao que me traz aqui. É uma declaração de José Manuel Viegas no Público de ontem, 14 de Novembro, em que explica o traçado do TGV que resulta da localização do aeroporto que ele defende. Diz ele: “É muito importante que, a partir do aeroporto, se consiga fazer a distribuição terrestre em direcção "às áreas do território em que se concentra boa parte da população e da actividade económica, e não apenas em direcção a Lisboa”. Para ele o aeroporto deve ser mais do que um aeroporto internacional e sim uma “placa giratória intercontinental.” E conclui: “Não se trata de servir bem os tráfegos de hoje, mas de estimular os tráfegos de desenvolvimento de amanhã.”
Ora, isto é planificação socialista de Estado que nos persegue desde o complexo de Sines dos idos anos 1970.
O Estado, quando toma decisões sobre infraestruturas de grande porte deve fazê-lo tendo em consideração aquilo que o mercado pede. O mercado é a mais importante fonte de informação que nunca, em tempo algum, conseguiu ser suplantada. Por isso, as estradas devem ser feitas sobre os caminhos já percorridos, as auto-estradas sobre as estradas existentes, etc. Por isso foi a certa altura escolhida a Ota para a localização do novo aeroporto. Este deve ser colocado, para utilizar as mesmas palavras de Viegas, nas “áreas do território em que se concentra boa parte da população e da actividade económica”, por forma a que não se tenha de apostar que outras vias serão criadas. Isto tem um lado bom. A actividade económica continua a concentra-se em determinadas regiões e fica o resto do País para o lazer e a contemplação da natureza. O Estado que segue o mercado não deve “estimular tráfegos de desenvolvimento de amanhã” mas limitar-se a “servir bem os tráfegos de hoje”.
A CIP fez uma encomenda pública de algo que podia ter sido mantido privado e acabou por receber uma contribuição que tem fundamentos que não fariam vergonha à ala da esquerda mais ideológica do Partido Socialista. Como este assunto é recorrente, no post seguinte vou colocar um velho texto em que procura desenvolver um pouco melhor este argumento.
Tenho obviamente de estar preparado para comer o meu chapéu caso Alcochete seja escolhido. Algo que um "historiador", que conhece sempre o futuro, não está habituado a fazer.
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