segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Os dinheiros da educação

O artigo do André Freire no Público de hoje (infelizmente só acessível para assinantes) dá-nos a conhecer algumas estatísticas importantes sobre o investimento na educação em Portugal. A sua tese é de que os factos não comprovam as palavras e a educação não tem sido uma verdadeira prioridade em Portugal. Partindo desta constatação, o André Freire desvaloriza a questão do modelo organizacional: o problema do nosso sistema educacional seria sobretudo uma questão de dinheiro. Sem colocar em causa que é também uma questão de dinheiro, acho importante juntar às estatísticas do André outras estatísticas que indiciam tratar-se também de uma questão de modelo. De que outra forma se pode explicar, por exemplo, que tenhamos a taxa mais elevada de abandono escolar e a mais baixa formação de toda a União Europeia (incluindo os novos Estados Membros) mesmo estando à frente de vários destes Estados em termos de despesa na educação? E como se explicam, igualmente, as nossas elevadas taxas de insucesso escolar, tendo nós uma das melhores ratios de professor por número de alunos (sendo que, por exemplo, o Reino Unido tem o número mais elevado de alunos por professor e muito melhores taxas de sucesso escolar). E já que o André Freire compara os níveis de despesa na educação era importante que comparasse, igualmente, a despesa pública e privada na educação. Se bem que a nossa despesa pública na educação não seja das mais elevados ainda assim ela está acima da média da União Europeia. Já a despesa privada é a mais baixa da União Europeia. Visto desta forma, podíamos dizer que a educação é, em qualquer caso, mais prioridade para o Estado do que é para os portugueses… Isto introduz, igualmente, a questão da co-responsabilização no investimento na educação e a sua relação com o modelo de financiamento. Uma coisa é clara, nem sempre os meios mais óbvios atingem os fins proclamados. Um último exemplo: Na União Europeia, o acesso ao ensino superior continua a ser, em larga medida, gratuito, ao contrário do modelo americano (onde as propinas são muito elevadas e suportadas através de empréstimos). O argumento mais comum a favor do modelo europeu é que ele permitiria um acesso mais democrático e universal ao ensino superior. Só que, na verdade, a percentagem de americanos a frequentarem o ensino superior é bastante mais elevada que a Europeia…
Alguém quer explicar estes paradoxos?.

4 comentários:

Anónimo disse...

as contas feitas pelos nossos políticos são sempre muito especiais, mais uma vez se lê que o ratio de professor por número de alunos, no nosso país, é das ou a mais baixa da europa, claro que o que escreveu no seu artigo é aquilo que esta ministra não se cansa de repetir e repetir, pena é que não o faça pensar um pouco na realidade dos números. Fale com professores dos centros urbanos como Lisboa, Porto ou Coimbra e logo ficará a saber que as turmas têm 27 a 30 alunos ou mais!! Mas como se continua a fazer a média com um país desertificado no seu interior, claro que os nossos políticos não param de falar do nº mágico de 7 alunos por professor, isto só por si já é grave mas muito mais grave é repetir-se sem questionar. Quem está no terreno sabe que muito pouca coisa que é dita sobre "educação" corresponde à verdade.

Miguel Poiares Maduro disse...

Para que conste: o meu texto baseia-se em estatísticas da União Europeia. Não foi baseado em declarações de políticos!
Isto não quer dizer que o que refere não seja verdade. Se for essa a explicação (que teriamos de comparar com o que se passa noutros Estados a esse respeito) o facto de a média portuguesa ser baixa é consequência de uma má distribuição dos Professores entre diferentes áreas do país. A verdade é que isso confirma o que eu digo: não é apenas um problema de dinheiro mas também um problema de modelo e organização do nosso sistema educativo.
obrigado
mpm

Anónimo disse...

Peço desculpa, de facto os dados são baseados em estatísticas, mas todos sabemos como alguns políticos se aproveitam de algumas estatísticas!
Também acho que é muito um problema de organização, os horários dos alunos têm uma carga enorme de horas, fazendo da escola um autêntico depósito de crianças, de pais muitas vezes ausentes. Depois de 8 horas de aulas num dia, ninguém pode esperar que o aluno chegue a casa e estude, esta absurda carga horária só por si prejudica qualquer método de estudo que se queira incutir nos estudantes, este é apenas um dos muitos aspectos que não funciona no nosso sistema de ensino.
Inês Pecquet

Miguel Poiares Maduro disse...

Cara Inês,
Totalmente de acordo consigo. Um dos enormes equívocos do nosso ensino (incluindo o ensino superior) é o de que o estudo só se faz numa sala de aula. Isto leva a uma carga horária excessiva, a um menor interesse das aulas (uma vez que os alunos não se preparam para as mesmas), ao não desenvolvimento de competências de estudo autónomo e à desvalorização da aprendizagem em comunidade (a escola deve ser muito mais do que um local de aulas, deve ser uma comunidade de ensino e estímulo intelectual com os professores e os colegas).
Miguel