domingo, 4 de novembro de 2007

A Educação

O destino da Educação é formar homens livres no pressuposto que a sabedoria é a verdadeira portadora da consciência dessa liberdade possível. Pressupõe, por isso, a Educação, que o saber é um espelho em que o homem se revê a si e ao mundo. Na acepção etimológica educar vem de ex-ducare, significa, trazer para fora e, nesse sentido, a maiêutica socrática, ou seja, a arte das parteiras, era verdadeiramente a educação. Significava que o saber que cada um procura seria encontrado dentro de cada um desde que fosse posto cá fora, isto é, fosse dado à luz.

Assim, a Educação tem uma finalidade superior e tem primado sobre aquele pálido e muitas vezes inútil, senão mesmo desorientador, objectivo de formar trabalhadores, ou seja, dirigir as suas finalidades para o mercado de trabalho. Ensinado a pensar, o homem, estará habilitado pelos seus hábitos, pela sua inteligência e pela sua imaginação, a contribuir com o seu esforço para as necessidades que, individual e comunitariamente, os homens em geral, têm na vida económica, artística e política.
A consciência do eu implica a consciência do outro e é dessa harmonização que o homem livre tem consciência ao proceder por pensamentos e actos. Aprender a ser livre exige que o saber se consolide nas comunidades humanas e o mundo civilizado é aquele que se pensa integralmente a partir do que está integralmente sedimentado pela tradição biológica, moral e filosófica. É erróneo pressupor que tudo vai ser inventado quando tudo apenas carece de actualização, ou de ser renovado.
Percebendo que está integrado numa sociedade humana, cada homem sabe que é parte de uma História que passa por si mas nem começa nem se esgota em si. Perceber qual é o seu lugar, qual é a sua singularidade e quais são os seus deveres, exige uma caminhada em que, voluntarismo, atrevimento e energia aprendam a reflectir-se, a conter-se e a reorientar-se. A Educação não é o que se verifica pelo resultado de uma avaliação técnica e arbitrária de conhecimentos disto ou daquilo, mas uma formação integral que inclui os hábitos dentro dos quais sentimos, procedemos e pensamos, as capacidades para procedermos por via da intuição e da inteligência, e o culto do amor pelo descobrimento da renovação que em cada ser se inaugura e que a cada ser cabe compreender para que, realizando-se individualmente realize a própria essência do convívio dos seres.
Retirar do sistema de ensino a conjugação dos hábitos de esforço, de disciplina e de respeito; da exigência intelectual da vida intuitiva e inteligente; e do culto da esperança no valor individual e universal do saber; é não perceber que a finalidade da Educação é a Liberdade. É julgar que a liberdade é ser-se um escravo obediente.

2 comentários:

Paulo C. Rangel disse...

Caro João Luís:

Assino por baixo.

Sofia Galvão disse...

A palavra não surge, mas a ideia perpassa todo o texto: responsabilidade.
Educar para a liberdade é educar para a responsabilidade. A liberdade é condição 'sine qua non' da responsabilidade, como esta o é de uma liberdade capaz de garantir realização e plenitude.
E talvez o problema - o nosso problema - esteja aí. Vivemos mal com a responsabilidade. E, por isso, somos falhos de liberdade...
A nossa história cultural e política evidencia bem a medida deste equilíbrio em perda recíproca.
Entre nós, e pondo as coisas em perspectiva, temo pois que os ditâmes do eduquês sejam, sobretudo, o aggiornamento de um saber ancestral. O que torna a experiência muito mais grave aqui do que em latitudes mais permeáveis aos valores da liberdade individual e do seu exercício responsável... Mas, em tempo de modas globais, quem repara na relevância destas pequenas diferenças?